Comentário sobre Street (2003)

"Os missionários haviam trazido o letramento, e desejavam utilizá-lo para fins de conversão, e para o controle e a disciplina; tudo isso é semelhante em muitos contextos em que grupos de missionários trouxeram a leitura, mas não a escrita, com exatamente aquele propósito do controle – se as pessoas pudessem escrever, poderiam efetivamente escrever suas próprias coisas, e se pudessem ler, somente leriam aquilo que lhes fosse fornecido (Clammer, 1976). Muito embora possam dar nova interpretação a um texto que tenham apenas lido, possuirão um nível mais alto de controle sobre um texto escrito por elas mesmas."

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Talvez seja por isso que a universidade nos ensina tão mal a escrever dentro dos moldes acadêmicos (artigo, position paper, ensaio, resenha, revisão, etc.), afinal, assim não nos dizemos nós mesmos, senão lemos e lemos e somos soterrados por ideias outras que, todavia, já nos habitavam por vias intuitivas e sensitivas. É curioso pensar nisso como um propósito estrutural, não como acidental, afinal, faz todo o sentido, passamos a ser meros reprodutores e jamais produtores, sempre copistas, jamais artistas – não é esse o propósito? Massa de trabalho, corpo braçal.—Eu entendo perfeitamente, há muita gente que diz e dirá besteiras do começo ao fim da carreira, mas eu quero poder dizer o que tenho a dizer sem precisar dessa frescura institucional toda! Já me peguei dizendo coisas que doutores não disseram (não sei se por falta de coragem ou de profundidade, importa saber que não disseram). Quando a organização universidade, a instituição deixou de se abrir para a relevância do dizer e se atentou às formas de dizer, às assinaturas, muito mais que às ideias, acabou-se, ruiu de dentro.