"tudo são trechos que escuto"

[...] Apenas o que me permito dizer agora, só para iniciar, é que hoje eu vi, ou melhor, pude ouvir, um silêncio interminável. [...] Pelo que sei, e não chega mesmo a ser muito o que sei, o silêncio se alimenta do que não foi dito. Quanto mais se prefere deixar de dizer o que se tem a dizer, mais o silêncio avança e avança por esse território do inominável. E, por causa disso, chegam a dizer a respeito do silêncio: que não é uma palavra, e sim um estado imaterial que mal se consegue sentir espichando-se a língua, como Einstein.

O silêncio não tem cara. Ele habita um hospedeiro, e a sua cara é a cara do hospedeiro infeliz. Mas, deixemos de coisa, porque o silêncio não é de todo infeliz, mesmo quando cai sobre duas pessoas. O silêncio pode ser: a pergunta, a resposta, o meio, o fim, o momento e etc. e etc. Às vezes, sob forma de resposta, o silêncio se traduz num olhar. [...] Quem, no mundo, se dói de silêncio até a morte? (sendo que a morte é o ápice de um silêncio naturalmente concebido).

Com uma caneta e uma folha de papel a minha disposição, eu posso me dizer: que eu sou todo o meu silêncio contido e que explodo em quinhentas mil fagulhas de palavras.

{sobre a mudez [de espírito] - rosiel - 21.02.2007}

Coisas acontecem. Sempre há coisas acontecendo no mundo todo e a todo instante. O fato de que coisas estão acontecendo agora, torna os pensamentos surreais, e logo afloram. Como eu consegui chegar até aqui? ainda por cima, respirando? Como eu consegui escrever o que já senti e continuar vivendo? Como já consegui ir dormir sem dar um beijo na avó? Como consegui, há algumas frases atrás, perguntar: como?

O teto é sempre uma coisa séria porque pode desabar. Como pode? Eu não sei mais de nada. Saber das coisas é chato. Preferiria não saber nunca de algumas coisas. Mas, acabou que eu fiquei sabendo da história de que se morre. [...] Uma pedra nunca vai morrer; só o que pode lhe acontecer é que, num belo dia, ela se acabe e deixe de ser pedra e passe a ser outra coisa que não pedra. Mas, nem por isso, o homem deixa de se acabar. Morrer, para ele, é o mesmo. Já a pedra, não: ela não conhece morrer. Eu bem que queria ser pedra, mas já vêm me contando há muito tempo que eu sou gente que pensa. E pedra não tem pensamento; só sabe ser uma coisa: ela mesma. Eu ainda tenho chance de ser outro. Cabe a mim escolher.

Pedra, em geral, é dura e não morre.

{ - rosiel - 18.02.2007}

[...] A minha perda se fez aqui, no instante em que iniciei a primeira linha. O que faço agora? E agora, o que faço?

{ - rosiel - 20.02.2007}

Rosiel Mendonça
Enviado por Rosiel Mendonça em 26/07/2007
Código do texto: T580369
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