CAMELOS E DROMEDÁRIOS

Quando vamos assistir a um filme pela primeira vez, sempre ficamos cheios de interrogações, que às vezes nunca se calam, até que finalmente assistimos ao tal filme, e, esse filme que mesmo sendo, ainda desconhecido, mas pelo simples fato de termos ouvido falarem algo ao seu respeito, por menor que seja o comentário, deixa-nos, cheios de grandes curiosidades.

È bom que a nós, não nos seja revelado partes ou até mesmo qual será o seu final, pois se alguém fizer isso, com certeza vai acabar nos estragando todo o filme, que até pouco tempo nos deixava repletos de grandes curiosidades.

Em se tratando de filme, seja ele qual for, não nos importando aqui essa questão, poderemos assisti-lo, quantas vezes nos formos necessário, pois em um filme, há como voltar atrás, desde o seu inicio ou simplesmente, pularmos as partes que não nos agrada e assistirmos somente aquelas, as quais nós mais gostamos, não é verdade?

Pois bem, observando um pouco nossas vidas, desde que nos entendemos por gente, poderíamos até dizer que, nossas vidas dariam bons livros que posteriormente poderia vir a se transformar em um grande filme ganhador de vários óscares..

Contudo, todos nós sabemos que nossas vidas reais não são exatamente como vemos nos cinemas, mas, porém, uma realidade completamente diferente, onde o que se faz nem sempre se pode voltar atrás, para uma refilmagem ou até mesmo uma correção.

Uma palavra escrita, por exemplo, por mais simples que essa seja, sempre será meramente uma palavra, nada mais que uma palavra, mas quando nós a pronunciamos, quando essa sai pela nossa própria boca, essa mesma palavra ganha força e dimensão ao ponto em que nós mesmos acabamos por perder todo o controle sobre ela, fazendo com que a mesma se alastre por todos os quatro cantos da terra.

Assim sendo, uma palavra mal colocada ou mal dita, pode nos causar inúmeras frustrações e grandes transtornos, e o melhor então, é medirmos bem o que vamos falar, para que não nos arrependamos mais tarde, pois segundo Carolina Maria De Jesus*, “Uma palavra escrita não pode nunca ser apagada. Por mais que o desenho tenha sido feito a lápis e que seja de boa qualidade a borracha, o papel vai sempre guardar o relevo das letras escritas”. A vida de qualquer ser humano, por mais complexa ou por mais simples que nos pareça, não é simplesmente um filme ao qual assistimos quantas vezes desejarmos ou simplesmente cortamos aquelas partes as quais não nos agrada.

Em nossas vidas, o que se faz está feito e por maior que venha ser o nosso arrependimento, não há como rebobinar ou voltar atrás para uma nova refilmagem.

Às vezes, nos vemos diante de algumas situações muito constrangedoras, onde ficamos sem saber o que fazer, ou como agir naquele dado momento, nos restando somente o arrependimento por saber que foi por nossa culpa que, isso ou aquilo, veio a acontecer.

O arrependimento, nos deixa muito frustrados e sem saber ao certo, como agirmos para voltarmos atrás e corrigirmos aquela situação, como se isso fosse apagar da nossa memória aquele fato tão desagradável ocorrido.

Muitas vezes, ocorre em nossa memória, algo bastante similar, assim

como aquela palavra escrita no papel. Por melhor que seja a qualidade da borracha, por mais macia que essa venha a ser, ainda assim

ficará gravado em nossas memórias, aquele acontecimento que tanto nos marcou e por mais que nos esforcemos, não conseguiremos tira-lo de nossas mentes. Não há como voltarmos atrás e refazermos tudo novamente.

Quando crianças, vivemos por assim dizer, uma vida de sonhos, onde tudo são somente alegrias e brincadeiras, com nossos amigos de infância.

Tudo nos é bastante agradável: as brincadeiras, as comidas, as diversões, os circos e os parques que chegam ou se vão embora de nossas cidades, as músicas, os causos que ouvíamos, os passeios, as diversas pessoas que conhecemos, os nossos vizinhos, nosso primeiro dia de aula, a primeira professora, o início de um namoro ás escondidas nas escolas (...), entre outras tantas coisas boas que nos aconteceram durante todo o percurso de nossas vidas.

Oh! Que bom seria se pudéssemos hoje mesmo, voltarmos atrás e novamente revivermos, tudo aquilo que aconteceu em nossas vidas, que bom haveria de ser se pudéssemos rebobinar esse tempo que longe vai e assim, nos alegrarmos novamente como outrora.

Queria eu nesse exato momento, aquela vidinha de antigamente, os amigos de infância, as comidas típicas, as brincadeiras, as festas tradicionais com suas barraquinhas embandeiradas, (...), em fim, tudo novamente.

Quantas saudades, quanta alegria seria poder estar novamente dentro daquele mesmo mundinho encantado que se perdeu em um espaço sem fim, e, como citei acima, todos nós sabemos que nossas vidas reais não são exatamente como vemos nos filmes e/ou cinemas, não há como voltarmos atrás e refazermos tudo da mesma forma que fizemos antes, não há como subtrairmos somente as partes agradáveis e excluirmos as partes ruins as quais vivemos, pois a realidade de nossas vidas é simplesmente algo completamente diferente de toda aquela ficção a qual assistimos, onde o que se faz nem sempre se pode voltar atrás, para uma refilmagem ou até mesmo uma correção.

Assim sendo, se fizermos uma analogia, entre a realidade de nossas vidas e tudo aquilo, que nos é transmitido através dos incalculáveis filmes, que já foram reproduzidos até esse exato momento, veremos que há uma grande diferença, pois enquanto no filme podemos saber como será seu princípio, meio e fim, em nossas vidas, jamais saberemos o que poderá vir a nos acontecer, daqui a um segundo se quer, pois na realidade da vida, tudo muda á todos os instantes sem nunca nos darmos conta do que está por vir.

Também é bom saber que somos seres subjetivos e que estamos sempre passando por uma metamorfose ambulante, por modificações em nossos comportamentos, por mudanças sucessivamente á todos os instantes, não só a partir das nossas novas experiências, como também através dos novos conhecimentos do dia a dia de nossas vidas.

O que agora é moda é febre ou está no auge, em pouquíssimo tempo estará desatualizado, sem valor e ninguém mais o quer.

Nada ficará para sempre na humanidade e mais cedo ou mais tarde, tudo aquilo que outrora, já fora de um imenso valor, grande esplendor e rara beleza, para os seres humanos, também em algum dia alcançará o seu fim, assim como, só para citar alguns claros exemplos do que findou, temos: os dinossauros na pré-história, a Biblioteca de Alexandria na cidade helênica no Egito, a Acrópole de Cumas, nas proximidades de Nápoles, os Templos de Poseidon e de Hera, em Paestum, na Itália e os Templos de Selinunte, na Sicília, alem do Paternon, o Olympieion em Atenas, os Jardins Suspensos na Babilônia, o coliseu em Roma, Sodoma e Gomôrra, Pompéia, as pirâmides do Egito, as muralhas de Berlim, os Incas e Astecas (...) e muitos outros de nossa atualidade que também um dia chegará ao seu fim, como o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar e o Estádio Mário Filho, no Rio de Janeiro, a Basílica de Aparecida em São Paulo, o Estádio do Mineirão em Belo Horizonte Minas Gerais, a Catedral de Nossa Senhora da Luz e o Palácio Episcopal, na cidade de Luz Minas Gerais, o Santuário de Nossa Senhora Aparecida em Campos Altos Minas Gerais o Teatro da Paz, localizado em Belém, no Pará, o Palácio do Planalto em Brasília no Distrito Federal, a Estação Cabo Branco em João Pessoa, na Paraíba, Opera de Arame em Curitiba, o Mercado Público de Porto Alegre, o Elevador Lacerda na Bahia (...), e outros tantos e tantos mundo a fora e muito mais o que se possa imaginar. Assim como também, tudo aquilo que supostamente me pertencer e que num breve futuro estará em outras mãos, enquanto eu não mais existirei para assistir o novo proprietário tomando posse de todos os meus bens materiais que lhe estará sendo repassado.

Eis aqui uma simples pergunta a qual não quer calar dentro de mim, talvez com a mesma ansiedade que aquela de quando ainda não havíamos assistido ao tal filme, você se lembra?

Quanto ao livro de sua vida, ao qual você o escreve, uma nova página a cada novo dia, a cada amanhecer e a todos os instantes de sua vida; suponhamos que este, hoje, se transforme em um novo filme inédito, que ainda não fora lançado, que ainda está na fôrma, por assim dizer, qual seria o final desse filme? (Lembrando se aqui, que sua vida ainda permanece e nenhum de nós seria capaz de lhe dizer quando a mesma findará). Se alguém vir a me perguntar, eu não saberei como lhe responder. Você ou qualquer outra pessoa a sua volta, seria capaz de me responder?

Talvez, quanto muito saberia como ele começou e foi ganhando dimensões até esse momento, mas ainda não poderíamos dizer com tanta certeza e total clareza se o mesmo está no meio ou quando exatamente terminará.

Talvez estejamos muito exaustos para decidirmos quanto a esse fato ou ainda demasiadamente cansados para acreditarmos que o mesmo ainda terá muito tempo de duração.

A vida de um modo geral, meu amigo, na realidade, não é apenasmente um livro ou simplesmente um grande filme de muito sucesso. Eu particularmente, lhe diria que, poderíamos comparar a vida, ou por assim dizer e para lhe ser um pouco mais claro, a palavra vida, de um modo em geral, ou a vida de todos os seres vivos, como a uma lenta e infinita caravana de camelos e dromedários, que vai seguindo por um caminho sem fim.

A caravana vai seguindo em frente pelo deserto infinito e nunca, por hipóteses alguma, haverá de parar. Esses animais por terem grandes resistências nos desertos, e aqui sendo simplesmente fictícios, jamais haverá se quer a necessidade de se alimentar ou beberem um pouco de água, mas, os mesmos terão como propósito e como seu único objetivo, o seguir em frente, sem nunca parar.

Essa caravana de camelos e dromedários, aqui representando a vida de toda a humanidade, vai caminhando, caminhando, caminhando (...), infinitamente, nunca param, nunca olham para trás, nunca refletem os acontecimentos, mas seguem sempre em diante, aquele seu caminhar lento, vagaroso e solitário pelo deserto adentro, sem nunca ninguém saber até onde aquela caravana de camelos e dromedários, haverá de algum dia por fim, chegar, e, no decorrer desse caminhar, tão lento e ao mesmo tempo tão longo, vai se perdendo muito de toda a sua carga que vai ficando para trás no intenso deserto infinito.

Os animais, de nossas matas ou não, vão sendo expulsos de seus habitats naturais, pelo homem. Vão perdendo toda a sua beleza e graciosidade, vão adoecendo, morrendo a míngua e por fim, vão sendo extintos das inúmeras regiões e de todo o globo terrestre.

As plantas e todo o tipo de vegetação, desde, as mais simplórias ás mais exóticas, vão sendo destruídas pelos agrotóxicos e pelo tão conhecido personagem, chamado progresso, que se deixa ser seduzido pelo dinheiro e pela ganância.

As águas potáveis, onde trilhões e trilhões de vidas das mais variadas espécies diversificadas habitavam, vão a cada novo dia se contaminando cada vez mais e se tornando a cada dia, mais poluídas, e o que é pior, mais difícil de conseguir.

As pessoas, assim como as águas e todo o tipo possível de animais e vegetações, transformadas em cargas ás costas dos camelos e dromedários que seguem seu caminho, e que também fazem parte desse todo, vão se acabando devido a incalculáveis fatos e acontecimentos dos mais inimagináveis possíveis.

Vão se perdendo pelo caminho, pelo infinito deserto, enquanto a caravana de camelos e dromedários vai sempre seguindo a diante sem nunca olhar para trás.

Não pelo simples medo de se transformarem em estatuas de sal, mas, pela obrigatoriedade de sua sina de seguir sempre em frente, dia e noite, noite e dia sem nunca cessar e sempre caminhando, caminhando, caminhando (...), sem nunca ter que parar e sem que ninguém nunca saiba onde isso irá se dar.

A caminhada é muito lenta, vagarosa, comprida, silenciosa e infinitamente. Nunca haverá de alcançar a algum lugar... E enquanto caminha, vão se perdendo pela longa jornada, sempre um pouco mais de toda a carga que está sendo transportada.

E a cada passo dado pelos animais, muitos valores, que talvez dinheiro algum nesse mundo fosse capaz de pagar, acabam simplesmente ficando esquecidos, deixados para trás e completamente abandonados como, por exemplo: crianças desamparadas, não só pelas famílias, como também pela sociedade, lindas meninas que se entregam a prostituição por tão pouco valor, mulheres com rotas alteradas, adúlteras e adulteradas, jovens que sufocados vão se perdendo no mundo das drogas, por lhes faltarem um ponto de apoio mais firme e mais forte, casais que se matam a tiros, facadas e espancamentos, alegando seu “amor” próprio (?), e por considerarem seus cônjuges, suas propriedades com registros nos cartórios e com reconhecimento de firmas, idosos que são abandonados por seus familiares, e, outros tantos pelas ruas, ou ainda, esquecidos em asilos, mendigos sendo queimados vivos, enquanto dormem debaixo de papelão ou ao relento, governos descarrilados que vão usurpando tudo o que a população mais carente, adquire com esforço e sofrimento, famílias sendo destruídas por bandos de bandidos, por traficantes e marginais, por religiões e religiosos impudicos que sugam as economias de seus fieis, por jogos fraudulentos, as várias guerras tolas e devastadoras, que destroem e deixam totalmente arrasadas, inúmeras cidades, com seus homens e mulheres de todas as idades, - bem como as crianças e adolescentes-, todos debilitados, doentios, traumatizados e mutilados, trazendo em seus corpos, muitos deles, ainda bastante jovens, as inúmeras marcas dos horrores vividos em seus próprios países de origens.

Neste filme da vida real, não há como voltarmos trás. Não há como fazermos uma correção. Não há como apagarmos esses erros tão bárbaros e violentos e tão brutais, torpes, inúteis, e sem nenhuma razão de ser.

Por melhor que venha ser a qualidade da borracha, por mais macia que essa nos possa parecer, não haverá como, pois suas inúmeras marcas ficaram gravadas para sempre, não só na memória de cada um deles, como também em seus corpos mutilados, doentios, frágeis e sem mais nenhum tipo se quer, de resistência ou razão de existirem.

Não há como resgatar nada do que vai se perdendo pelo longo caminho, pois a caravana de camelos e dromedários, com seu passo lento, vagaroso e infinito, não têm como ser detida, não há como voltar a trás para nenhum reparo. Sua sina é a de seguir em frente, sempre em frente, em frente (...), sem nunca parar.

Os animais vão seguindo sempre, sem nunca desistirem, sem nunca pararem para se alimentarem, sem nunca pararem para beberem água, sem nunca pararem para descansarem. Simplesmente vão seguindo em frente com seu caminhar, lento, vagaroso, plácido, tranqüilo.

E enquanto vão seguindo esse seu caminho, vão sendo deixado também, para trás, uma boa parte de toda a carga que os mesmos vão carregando. Sempre um pouco mais de tudo que, em um dia qualquer, já teve um grande valor por algum vivente, seja ele: plantas, animais ou homens, grandes ou pequenos, que algum dia também fizeram parte dessa mesma carga, dessa caminhada, dessa mesma história de vida e da vida de cada um deles, nessa mesma caravana de camelos e dromedários, que segue em frente o seu lento caminhar.

Quem de nós, ainda não presenciou uma sena desagradável em nossas vidas? Quem ainda, nunca perdeu algo de estimação e de muito valor? Quem de nós, ainda não perdeu um ente querido, por inúmeros motivos? Quantos de nós que nunca passamos por dificuldades em nossas vidas? Quem nunca chorou, uma lágrima se quer, seja de alegria ou até mesmo por uma profunda dor, uma desilusão ou uma despedida? Decepções, frustrações, tristezas, perdas materiais ou sentimentais, entre outras tantas e tantas coisas, que em algum dia tivera um grande valor em nossas vidas (?).

Pois bem, meu caro leitor, o que você tem feito para trabalhar as perdas, nos últimos dias de sua vida (?) levando em conta que a caravana de camelos e dromedários, nunca haverá de parar, e sempre seguirá em frente, mesmo a passos lentos pelo deserto infinito.

Você se quer tem pensado um pouco, que tudo aqui, é meramente passageiro e que nada do que nossos olhos conseguem enxergar, terá vida plena ou eterna? Você, acaso chegou a conhecer a Acrópole de Cumas nas proximidades de Nápoles (?), os Templos de Poseidon e de Hera, em Paestum, na Itália (?) e os Templos de Selinunte, na Sicília, além do Paternon, o Olympieion em Atenas (?). E os Jardins Suspensos na Babilônia, o Coliseu em Roma (?).

E Sodoma e Gomôrra, Pompéia, as pirâmides do Egito (?), ou talvez ainda, as muralhas de Berlim, os povos Incas e os Astecas? Possivelmente sua resposta será não, pois esses povos foram extintos e a maioria dessas construções foram edificadas a longos e longos anos, e, hoje o que resta das mesmas ou de somente de algumas delas, são somente suas ruínas, não é verdade?

Se olharmos por outro ponto de vista, em se tratando de matéria, do palpável e concreto, como tem sido sua vida nos últimos anos? O que têm lhe passado para que você siga, ou se caso você tenha filhos, o que você tem lhes ensinado nos últimos dias? Talvez eu possa parecer um pouco curioso de mais com o que se passa com você ou em sua vida, não é verdade?

Mas, na verdade, não é esse o meu objetivo. Minha intenção é somente fazer com que você, reflita um pouco enquanto você também faz parte dessa mesma carga que segue lentamente nessa caravana de camelos e dromedários.

Possivelmente o que lhe ensinaram desde pequeno e conseqüentemente você vem passando para os seus filhos é meramente a mesma história de antigamente. Você precisa crescer, estudar, se formar, ter o seu próprio trabalho, o seu próprio sustento sem depender de mais ninguém. Você precisa conseguir sua casa própria, seu carro novo, seu sítio, viajar para o exterior (...), e muito mais que isso não é verdade?

Em momento algum, lhe direi que isso é errado, pois bem sei que os estudos assim como o trabalho, só tendem a engrandecer e enobrecer o ser humano e alavancar cada vez mais sua vida para o progresso e as grandes conquistas além de suas honrarias.

O que eu gostaria de deixar aqui para você, é simplesmente uma reflexão. Sempre nos fora ensinado, o TER, o adquirir, o possuir cada vez mais e mais, não é verdade? Você já pensou alguma vez que poderá perder parte de todos os seus bens materiais adquiridos ou até mesmo tudo, do que você já conquistou até aqui, nesse exato momento? Só o simples fato de pensarmos nisso, faz nos esfriar a barriga, não é mesmo?

Mas, como você reagiria em uma situação como essa? Você estará preparado para enfrentar esse momento em sua vida? Você enfrentaria suas perdas, sejam elas material, espirituais ou até mesmo de um ente querido, com o mesmo temperamento ao qual você se encontra nesse exato momento em que lê esse texto?

Pois bem, sugiro lhe, que a partir desse momento, você passe a pensar um pouco mais, em tudo isso que estou lhe dizendo, para que futuramente, você estando mais preparado para encarar com maior resistência, a realidade de sua vida, você não venha a sofrer com suas adversidades, ou, se acaso, isso vier a lhe acontecer, você esteja pelo menos um pouco mais preparado, para enfim, saber aceitar a realidade de sua vida e sabendo que tudo tem um fim, por maior que seja o nosso amor pelos nossos entes queridos ou nossos bens materiais.

Provavelmente, você já participou de inúmeros festejos de noivados, casamentos, batizados, aniversários, natais, confraternizações de ano novo e outras tantas e tantas festividades onde as famílias se reúnem e juntos vão comemorar aquele grande acontecimento, não é verdade? Isso é uma tradição existente entre os povos há muitos e muitos anos não é mesmo?

Pois bem, o que possivelmente você, nunca tenha presenciado, ou tampouco já ouviu falar, foi o fato de um pai reunir seus filhos e toda a sua família, em volta de uma mesa, para conversarem sobre a perda e o deixar de ter, sobre a morte.

Todos preferem não falar nada a esse respeito, pois, sabe bem o quanto isso lhes é desagradável e ir levando a vida sem comentar sobre essa realidade é mesmo mais agradável, não é verdade?

A verdade, meu caro leitor, é algo que muitos de nós tentamos omitir, concorda comigo? Todos preferem se esquivar da realidade da vida, para assim viver uma vida ilusória de que seremos eternos.

A todos os instantes de nossas vidas, estamos presenciando os fatos mais reais e os inúmeros acontecimentos desagradáveis a nossa volta, mas muitas vezes, achamos melhor nos esquivarmos de tudo isso e acreditarmos que isso só acontece com as outras pessoas e nunca conosco. Achamos que somos imunes a tudo isso, até que, por fim somos pegos de surpresas, e nos vemos tristes e reconhecemos com grande amargura, que isso também faz parte de nossas vidas.

E qual o motivo que nos leva a agirmos assim, senão a nossa falta de preparo para ocasiões como essas? Infelizmente não estamos aqui por vontade própria, ou poderemos escolher quanto tempo iremos permanecer sobre esse imenso globo terrestre.

Na verdade, nós nunca saberemos ao certo, o que nos aguarda no próximo segundo de nossas vidas. Vivemos sobre um verdadeiro milagre, onde a cada dia é aberto uma nova caixinha de segredo. Nunca saberemos o que tem dentro de cada uma delas, nunca saberemos qual delas será a nossa ou ainda a que dia e hora a nossa caixinha será aberta, para enfim nos revelar o nosso término.

Somos todos passageiros de um mesmo trem. Somos todos, partes da mesma carga que segue em frente sobre o lombo dos camelos e dromedários nessa infinita caravana.

Fazemos parte de um cenário enorme, onde todos nós estamos sendo filmados a todo o momento. E nesse filme, não cabe a mim, lhe dizer como será sua próxima cena. Se esta será sua ultima apresentação, ou ainda, se você atuará por mais algum tempo, interpretando esse seu papel.

Quem sou eu, meu caro leitor, para saber o futuro dos seres humanos? Quem sou eu para voltar a traz, e reviver somente aqueles bons momentos de outrora, em que éramos felizes e muitas vezes, não soubemos aproveitar de uma maneira mais saudável e divertida, tudo aquilo que hoje, são simplesmente meras lembranças e nada mais.

Não é minha intenção que você me veja como um ser superior, que tenta lhe convencer de minhas idéias ou meus objetivos, por favor, não é esse o meu pensamento. O que eu gostaria, é de que você refletisse um pouco mais, sobre o que se passa em sua vida, em seu trabalho, em seu trajeto do dia a dia. O que você, supostamente, poderia estar fazendo, com o intuito de poder ajudar mais, aqueles que nesse momento, estão carentes de um bem material ou até mesmo de uma simples palavra amiga, para que eles possam se reerguer das sarjetas e voltar novamente a sorrir, com mais alegria e confiança?

Nunca saberemos o que nos espera na próxima esquina, nunca saberemos quando e como será o nosso fim, não é mesmo? Nunca saberemos o que vamos ter ou perder em nossos dias, no longo caminhar de nossas vidas.

Se soubéssemos, talvez, não brigaríamos em vão por tantas coisas tolas e banais que vemos surgir dia após dia em nossas vidas. Não choraríamos em vão, não sofreríamos por coisas fúteis. Procuraríamos viver com mais alegria, mais amor, mais união, mais um pouco de paz. Fazemos tão grandes guerras, destruindo e mutilando a tantas pessoas inocentes, sendo que muitas vezes, essas mesmas pessoas ainda nos vêm abraçar, com muito amor e carinho, supondo que somos merecedores de sua confiança, seu carinho, seu amor.

Acreditam que somos pessoas dignas de suas atenções, que somos capacitados para lhes oferecerem algo bom, que possa lhes aliviar um pouco suas dores e angustias.

Estamos sempre em grandes conflitos, por tão pouca coisa e por uma causa tão banal, que na maioria das vezes, as grandes coisas, as grandes oportunidades, as maiores riquezas e os maiores valores que possamos imaginar, acabam passando a meio palmo de nossos narizes e por estarmos todos focados àquelas coisas tolas e banais, ficamos cegos a tudo e infelizmente não temos olhos para ver as maravilhas que estão expostas ao nosso redor.

E enquanto tudo vai acontecendo a nossa volta, o relógio nunca para de marcar o tempo, o globo onde habitamos nunca deixará de girar, o sol haverá de nascer todos os dias, assim como as estrelas iram brilhar eternamente ao anoitecer, indiferentemente se estivermos vivos ou não.

Essa regra nunca foi mudada e pelo o que tudo indica não haverá de mudar tão sedo, não é mesmo? A vida nada mais é senão um ciclo vicioso, onde pessoas viciadas acordam todos os dias de suas vidas e procura fazer tudo igual ao dia anterior, sem nunca ao menos tentar fazer diferente ao menos uma só vez, o que sempre fazem em suas vidas. Agem como verdadeiras maquinas ambulantes que só procuram produzirem a cada dia, mais e mais, sem nunca tirarem um pequeno tempo para si, para suas famílias, para seus amigos ou um pequeno momento de lazer, mesmo que seja na solidão de um dia qualquer.

Trabalham, lutam tanto, adquirem quantidades incalculáveis de bens materiais e grandes riquezas e por fim acabam gastando tudo ou quase tudo do que já conseguiram ajuntar até o momento, com infindáveis tratamentos dos mais variados possíveis, na esperança de que se curará de suas depressões, suas ulceras nervosas, suas insônias, suas carências e por fim seus cânceres malignos, que a tudo vai devorando pela frente, sem nem ao menos se apresentar anteriormente.

A luta, meu amigo, deve ser uma constância, a cada novo dia, a cada amanhecer, sempre, sempre... Antes, porém, é preciso que saibamos como lutar, como enfrentar essa nossa batalha no dia a dia de nossas vidas.

Vamos lutar sim, por que não? Isso também faz parte do ciclo vicioso de inúmeros viciados, não é verdade? Mas, nessa luta, é de fundamental importância, que estejamos preparados para o que estiver por vir, para o que iremos enfrentar em nosso campo de batalha, não é verdade?

Devemos lutar de igual para igual, sempre com as mesmas armas de nossos adversários, que são as adversidades de nossas vidas, pois caso contrário, não resistiremos nem mesmo ao primeiro ataque e já podemos nos considerar vencidos. E o nosso objetivo aqui nesse mundo, não deverá ser outro senão a nossa vitória, a nossa felicidade, nada mais que isso.

Fomos criados a imagem e semelhança de um Ser superior, que a tudo criou, só e unicamente, para nos dar prazer, alegria e felicidade, mas infelizmente, não é isso o que vemos por aí. Os seres humanos procuram complicar tanto suas vidas, que acabam se matando uns aos outros, pelas coisas mais banais da face da Terra.

Não se respeitam, não têm amor ao seu próximo, não procuram reconhecer seus erros, não pedem desculpas, nunca cumprimentam uns aos outros, estão sempre de mau humor, sempre atrasados para algum compromisso, não dão atenção a nada do que está fora de seus vícios rotineiros.

Com isso as pessoas mais queridas também vão se afastando, vão se retraindo cada dia um pouquinho, até que por fim se deparam com uma grande solidão e um desolamento infindável.

Nesse momento a tendência é a de tentar recuperar o que se perdeu no decorrer de toda a sua vida, mas isso agora já não mais lhe terá nenhuma importância, pois o tempo perdido não há como recuperá-lo ou voltá-lo atrás, assim como as pessoas queridas às quais nós as esquecemos, essas muitas vezes já nem vivem mais, enquanto outras tantas se mudaram para lugares bem mais distantes e na maioria das vezes, essas também, nós, nunca mais as veremos novamente.

O que fazer numa situação assim (?), haverá algum muro capaz de receber e aceitar com tal paciência a tantas lamúrias e lamentações?

São tantas as coisas que deixamos de fazer, de observarmos, de vivermos e apreciarmos em nossas vidas, que se pararmos para uma pequena reflexão, é bem provável que aí mesmo, começaremos a nos sentirmos inúteis até mesmo com nós mesmos, não é verdade?

E enquanto vamos tentando a sorte, entre a vida e morte, na esperança de que dias melhores virão, ainda deveremos nos lembrar de que, se ainda estamos vivos, de que o filme ainda não chegou ao final e que ninguém estará habilitado ou apto a nos dizer como será a próxima parte ou até mesmo o seu final, cabendo a cada um de nós, procurarmos interpretarmos sempre e de uma forma cada vez melhor o nosso papel, enquanto estivermos em foco, pois as cenas de nossas vidas, não há como voltar atrás para serem reparadas, corrigidas ou simplesmente ser feito uma nova filmagem do que ficou ruim, do que não nos agradou.

A vida meu amigo, nada mais é senão uma caravana de camelos e dromedários, que seguem lentamente, passo a passo o seu longo e lento caminhar, sem nunca ter que fazer uma mínima parada se quer.

A regra desse jogo é mesmo um pouco complicada de se entender, não é mesmo? Esses animais são bastante resistentes e nunca se cansarão nunca se abaterão nunca se alimentarão ou se quer farão uma pequena pausa para beberem um pouco de água. Sua sina é de caminhar, sempre, sempre, sempre o seu caminhar lento, vagaroso, sem ter nenhuma pressa por chegar, mesmo porque essa caminhada é bastante longa, é infinita.

E enquanto caminham, a cada novo passo, vão deixando para trás, sempre um pouco mais de toda a sua carga, que aos poucos vão se despencando de seus lombos e acabam sendo deixados para trás.

Que caravana de camelos e dromedários seria essa, meu cara caro leitor, senão a vida de um modo em geral? Que cargas são essas, senão a nós mesmos, que no dia a dia de nossas vidas, vamos deixando se perder em meio a tantas atribulações de nossas vidas?

Não estamos preparados para lutar de igual para igual, saímos atropelando tudo e todos que vemos pela frente, não nos desculpamos, não somos capazes de reconhecermos os nossos erros e tudo o que queremos é ter, sempre um pouco mais a cada dia, não nos importando de onde isso virá. Muitas vezes um pobre e ignorante, será capaz de viver uma vida inteira, com muito mais sabor, com mais saúde, com mais alegria, com mais nobreza, com sabedoria e mais dignidade que muitos reis que a tudo possuem e de nada seus bens lhe valerá. O importante não é o Ter, mas o Ser, assim sendo, por que não levar uma vida mais tranquila e em paz, a uma vida repleta de grandes cobranças, onde não lhe restará mais tempo algum, nem para você ou seus familiares.

Quanto mais lhe for dado, mais ainda lhe será cobrado, isso já vem de longos e incansáveis anos, muito antes mesmo das existências de todas as milenárias construções e templos já citados anteriormente, muito mais tempo do que se possa imaginar, ou ainda talvez, muito bem antes da caravana de camelos e dromedários, dar início a sua tão longa e lenta caminhada, pelo imenso deserto infinito, onde ninguém será capaz de nos dizer, até onde a mesma chegara, pois em cada passo dado pelos animais, vai se perdendo sempre um pouco de toda a sua carga, as pessoas, os animais e tantos outros tipos de seres vivos ou não vivos que vão se findando pela longa caminhada, enquanto que outros vão surgindo e se recompondo nessa mesma longa e infinita caminhada a cada novo dia que se amanhece.

*Carolina Maria de Jesus: É considerada a primeira escritora negra, brasileira, autora de Quarto de Despejo, O Diário de Batita, entre outos.

Estação do Cercado (MG), 14 de agosto de 2016.

Tadeu Lobo
Enviado por Tadeu Lobo em 04/11/2016
Reeditado em 16/03/2020
Código do texto: T5812929
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.