ESCRAVIDÃO HODIERNA

Desde os tempos da caverna,

perpassando todas eras em que impérios se espalharam,

os homens lutaram por chão, sustento, alimento e agasalho.

Nessa história se entalharam criações de normas e instituições

que ampararam e amarraram a dominação, o controle e a apropriação

da vida, do suor, do pão e do trabalho por alguns homens criados,

que passaram a serem tomados por empoderados "homens-irmãos”

mediante a força bruta das armas, das lutas ou das leis

implementadas por chefes-reis, Estados, governos e patrões...

Em tal contextualização, que remonta aos tempos em sucessão,

os homens foram criando, (re)inventando

formas de subordinação e sujeição

de uns homens a outros homens, através da escravidão...

Todavia, diferentemente do que é corrente se asseverar,

a escravidão não é coisa atida apenas a eras antigas...

Pois seu modo tosco ainda impera, persevera, de forma insana

morando em cena conosco, tendo assim sua chama

sendo ainda bem presente nas eras moderna e contemporânea...

Em faces dadas de tal hodierna realidade,

em produções artesanais, industriais e na agricultura

disseminadas por campos e cidades,

a escravidão, ainda impera e se apura renitente, persistente, cruel e dura...

A escravidão hodierna não é, portanto, apenas um conto de caserna.

Ela se aloja, de modo atido, ativo, ambíguo, subreptício, mas repetido

das épocas mais ancianas até as eras modernas e contemporâneas...

Assume formas e medidas cujas insígnias as leis e normas do Estado

dizem serem combatidas de forma continuada e severa,

mas sendo, deveras, tais leis e normas descumpridas,

ignoradas, desobedecidas, sendo ela

até mesmo aprimorada e reproduzida, nos tempos atuais,

por empresas interessadas em sua existência,

por serem, em essência, muitos capitais beneficiados

pelos ganhos reiterados de acumulação obtidos mediante a escravidão....

A feição de atualidade de tal instituição

nos deixa uma conclusão sincera e clara:

com efetividade, ela, que atravessara tantas eras,

mostrando a cara desde os tempos da caverna,

na atualidade, infelizmente não é coisa rara,

pois em muitos lugares ainda impera...

E, sendo fato que sobrevive e se espalha,

nos joga na cara essa triste obviedade:

ou a sociedade se desfaz dessa vergonha, dessa brutal perversidade

ou a escravidão devora os homens, a sociedade

e seus sonhos de paz, justiça, igualdade, liberdade

e construção de mais humanidade...

(Luiz Carlos Flávio)