Viver para que?

Morrer ou não morrer, eis a questão. Viver ou não viver, eis a nossa dilaceração. Que vida é essa que vale a pena ser vivida? Aonde ela está que não a vejo? No noticiário? Não. Lá só encontro fome, miséria e caos. Nas revistas? Muito menos. Lá só há tortura, ilusões e charlatanismo. Por que não morrer então? Melhor, por que não morrer agora? Com que espanto o mundo receberia a notícia de que estamos todos mortos!? A maioria de nós já está… Mataram nossos sonhos, queimaram nossas utopias, pisotearam nossas quimeras, tudo em nome de um bem maior. Bem para quem? Maior para quem? O ofício de produzir estraçalhou a diversão de criar. A ambição engoliu nossa sensibilidade e a grandeza de nossa ganância sobrepujou a simplicidade das coisas que não se medem. Morrer ou não morrer, eis a questão. Não, não morra agora. Você precisa gerar lucro, ser alguém socialmente, sustentar o estado, trabalhar 40 anos, até que finalmente possa morrer. Porque não há espetáculo se o mero lacaio morrer no primeiro ato, é preciso dar esperança a pobre criatura que se lambuza ingenuamente numa poça de lama que parece ser doce. Por que viver se não há vida? Não será mais fácil anunciar inesperadamente o final que todos esperam? Morrer ou não morrer, eis a questão.

Mais que um mero poema
Enviado por Mais que um mero poema em 18/11/2016
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