Psicografia nº 6 - Prenúncio sobre o Mistério
Maravilha é poder contar coisas alegres da vida. É conseguir tirar melodia de pedra; amornar conversas tediosas ou pegajosas. A grande maravilha da vida talvez sejam as pequenas habilidades, discretas, trabalhadas com minúcia e às escuras. O grande maravilhador me parece ser aquele que consegue acompanhar o lento despertar de uma borboleta que acaba de sair do casulo. É preciso alçar vôo... seguir o ritmo do rio. Despencar onde despenca a correnteza, deixar-se levar pela natureza da vida. É preciso pulsar como pulsa a terra fértil de possibilidades. É preciso ainda deixar que aconteçam as possibilidades. Banhar-se na luz do dia, na luz da noite; fundir-se ao rarefeito, liquefazer-se, revirar-se em posições suaves de paixão. Há de se deixar fluir... o sangue fluir, ferver, esgotando as energias que precisam ser gastas. Antes de tudo, é preciso estabelecer a ligação com cada ponto de espaço. É preciso proteger os espaços, os vértices, as dobraduras, as transformações. É preciso também que se proteja o tempo em que ocorrem os momentos graves, pois tudo no mundo está banhado de Tempo. Todos estamos encharcados desse mistério, completamente envolvidos, porque fazemos, nós mesmos, parte do Mistério. E virá o tempo em que todo mistério será revelado, desvendado, desnudado, e fará parte da clara-luz que brilha acima das ondas – pois mistério, antes de tudo, é trevas e escuridão. Nós, ao fim dos mistérios, brilharemos acima das ondas, do sol, da eternidade de uma nota só.