Emaranhados.

Na teoria, eu deveria saber quem eu sou e eu deveria dizer que sou doce, tímida, gentil, carinhosa e uma boa pessoa. Na prática, eu me odeio o suficiente pra distorcer tudo sobre mim. Sempre houve isso, essa dúvida sobre quem eu sou, esse aparente vazio que me incomoda sempre que eu brigo com ele. Eu era maravilhosa? Ou eu ainda sou? Será que ser tudo isso, esse emaranhado de intensidades, é suficiente? É doloroso ser impulsiva, eu tenho certeza disso. Na teoria, eu não deveria falar sobre mim, eu deveria estar discutindo sobre como o mundo é horrível, sobre machismo, feminismo, desigualdade social e a podridão no mundo, mas, na prática, meu vocabulário e nexus de pensamentos se resume à mim e à ele. Na teoria, eu não deveria ser tão egoísta, eu não deveria esfregar as coisas na cara dele, eu deveria parar de acordar com a cara de emburrada que ele odeia, mas, na prática, eu acordo emburrada igual ao cão do inferno, esfrego tudo o que posso na cara dele quando brigamos e eu sou egoísta e só penso no meu lado e em mim; No final das contas, eu não sei amar direito. Erro meu, por talvez, ter dado mais valor à minha aparência e personalidade quando estávamos distantes um do outro e agora que moramos juntos, eu sou o inferno em pessoa? Erro meu por ser impulsiva de mais e não saber calar a boca e jogar o meu orgulho penhasco à baixo? Erro meu ter, talvez e até sutilmente, mentido sobre ser uma pessoa maravilhosa? Sim, o erro é meu por não saber quem eu sou e ter de perguntar à outras pessoas o que elas pensam de mim só pra ter alguma certeza de que o que eu digo sobre mim é um pouco verdade. Há um emaranhado aqui dentro, e eu sei que eu só tenho 19 anos e não devo me forçar tanto, mas não acho que seja errado querer ser perfeita pra alguém, assim como não acho errado ele ser tão imperfeitamente perfeito pra mim, sem o mínimo de esforço. Mas, quando se trata de mim, os mínimos erros são cruéis à minha mente, ao meu coração e ao meu corpo, e eu sinto, de alguma forma, que isso vem me destruindo cada vez mais; Minha mente se desvaindo em paranoias e em pensamentos estranhos sobre como "eu não sei gostar direito das coisas de que eu gosto", ou então "que eu deveria saber sobre mais assuntos", ou até mesmo "eu não me interesso por muitas coisas". O fato é que, minha mente vem se escondendo cada vez mais, fugindo de tudo o que pode, se concentrando no que não deve; Meu coração se envenenando cada vez mais sobre não saber se está amando pelas razões certas, se está dando amor e carinho corretamente, se ofendendo com cada coisinha idiota, que de alguma forma lhe torna frágil, fraco e vulnerável. Meu coração simplesmente não sabe mais se está bom o suficiente pra continuar com tudo isso. E meu corpo, bem, ele continua o mesmo, a coisa que eu mais odeio, mas agora ele sofre menos. Ah, Deus! São tantos emaranhados aqui dentro e fora de mim, que eu simplesmente me torno complexa e complicada de mais.

Chari
Enviado por Chari em 19/12/2016
Código do texto: T5857380
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