Melhor não significa bem

Eu sei o que é estar no meu pior. E eu reconheço que outras pessoas já estiveram pior ainda - eu mesma presenciei minha mãe passar por isso -, mas, ainda assim, eu estive muito mal.

Houve um tempo em que eu não conseguia levantar de manhã para ir para a aula. Houve um tempo em que eu perdi um evento importante do meu trabalho porque simplesmente não consegui ir. Houve um tempo em que eu nem pensaria sobre isso, pois estaria apenas pensando sobre o quão horrível eu me sentia ou o quanto eu queria que tudo acabasse. Houve um tempo em que eu desejei pela morte. (embora, hoje em dia, eu ainda não me importaria tanto).

Alguns meses e vários ajustes na medicação depois, eu me sinto, sim, muito melhor, e não estou nem perto do que costumava estar. Eu estou muito funcional, por assim dizer. Eu me levanto, eu faço o que preciso fazer, e até o faço bem, eu falo com as pessoas, eu consigo rir e fazer piadas. Para aqueles que não me conhecem, ou até para alguns que deveriam, eu pareço estar bem.

Mas não estou. Realmente não estou. Não estou nem perto do que estava antes, mas isso não é um parâmetro muito alto. Eu não estou viva de verdade. Eu não consigo sentir as coisas, sejam elas boas ou más.

Às vezes eu tenho um lampejo de sentimento, mas minha mente me lembra de todas as coisas que aconteceram, e ela tenta me convencer de que eu não deveria sentir nada. Ela me lembra que talvez eu não o mereça.

E, agora, eu me descubro buscando alguns sentimentos, até mesmo tristeza ou raiva, só para me sentir humana de novo. Eu me descubro buscando minha vida de volta. Mas ela não me deixa. E mesmo me fortalecendo, ela ainda me faz sentir fraca.

Ana C Melo
Enviado por Ana C Melo em 25/12/2016
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