Enterrando os mortos

Recebi um e-mail de uma amiga querida me elegendo sua conselheira e dizendo que sou Razão e Emoção contrabalançadas. Na seqüência, recebi outro e-mail de outro amigo querido dizendo que devo ter algo de Escorpião em mim, devido às minhas atitudes e na coragem que tenho de encarar de frente as dores, dissabores e amores mal-resolvidos. Eles me fizeram pensar... Ambos disseram a mesma coisa, de forma contextual diferente.

Pensei em mim e em como gosto de pessoas profundas, sentimentos profundos, gente com teor e qualificação moral. Pensei nas pessoas que conheci na vida e nas que ainda tenho, vez ou outra, à minha volta e que, depois de anos e anos de afastamento, em nós ainda permanece o amor, o respeito, a admiração mútua. Pensei em outras, nas superficiais, pessoas que apenas visam algo em proveito próprio, que não sentem afeição nem amor e apenas nos usam para alcançar seus próprios objetivos. Pensei a frio.

Há muitos anos, menina ainda, quando li Garcia Lorca, em uma das páginas ele mencionava isso. Algo como pensar a frio para que a ilusão do pensamento não estragasse o sentimento real que se tem baseado na memória de algo, desvinculando assim, situações passadas. Ou seja, pensar apenas no que está acontecendo no momento com aquela pessoa e o que ela está representando apenas naquele momento, sem qualificá-la. Tenho por hábito, ao ler um livro, um poema ou até bula de remédio, quando encontro uma frase, uma linha, uma idéia que percebo possa me servir de esteio, fico por muito tempo lendo a mesma coisa até interagir com a letra ou até que ela me penetre de forma absoluta. Aconteceu isso quando li essa passagem. Devo ter ficado mais de hora na mesma página tentando compreender e assimilar como se pensa a frio e o que isso poderia me servir na vida. Então, volto ao início dessas linhas: razão e emoção balanceadas e decisões cortantes imbuídas de coragem e com o mínimo de sofrimento.

Isso me fez observar que ando esquecendo de pensar a frio. Tenho deixado a emoção prevalecer e por isso tenho cometido erros elementares. Tenho percebido o 'modus operandi' de algumas pessoas e fechado os olhos.

Fiz um remake das pessoas que têm me magoado por esses tempos, da maneira como me entrego a quem não me merece, em quanto tempo tenho perdido com inutilidades e cheguei a conclusão de que tenho deixado de pensar dessa forma inteligente por conta da preguiça, cansaço ou por distração. Ainda posso tomar algumas decisões balanceadas e cortantes, mas o que de fato importa, tenho mistificado com lembranças de outros momentos que se foram e que não mais retornarão.

Não creio que eu sirva como conselheira e Escorpião é um signo que é meu inferno zodiacal, embora seja o melhor parceiro sexual que eu possa ter mas, considerações à parte, acabei por enterrar muitos mortos hoje.