É perda de tempo discutir a Reforma Curricular do Ensino Médio?

No final do ano de 2016 discussões acaloradas movimentaram o debate sobre educação no Brasil a partir do momento em que o Ministério da Educação divulgou como deveria ocorrer a Reforma Curricular do Ensino Médio. Inicialmente, houve muita confusão com relação aos conteúdos que seriam oferecidos, e após muitas manifestações de desagravo por parte de professores, estudantes e especialista em educação o Ministério da Educação recuou, o que arrefeceu um pouco os ânimos de todos os envolvidos nessa Reforma.

Ocorre que o problema educacional brasileiro não inicia no Ensino Médio. Exames como o PISA colocam o Brasil quase em todos os anos como um dos países com pior nível de conhecimento em Matemática, Ciências e capacidade de interpretar textos no mundo. Recentemente, ainda em 2016, pesquisas mostraram que menos de 10% da população brasileira sabe ler, escrever e fazer cálculos com proficiência adequada, o que torna o nosso país, se não um país inteiro de analfabetos funcionais, um país composto por uma minoria absoluta com proficiência suficiente para de fato concluir o Ensino Fundamental.

Aliás, a questão do analfabetismo funcional, característica descrita como de alguém que sabe ler e escrever, mas é incapaz de interpretar uma informação corretamente, além de ser incapaz de fazer cálculos mais complexos, é um problema grave também entre universitários. Pesquisa realizada em 2012 mostrou que 38% dos universitários não sabe ler e escrever corretamente. No mesmo ano, outra pesquisa realizada no Distrito Federal concluiu que 50% dos universitários são analfabetos funcionais, e é possível que esse quadro tenha piorado nos últimos anos, haja vista a nossa piora de desempenho em exames como o Pisa, o retrocesso no combate no número de analfabetos verificado no Brasil em anos recentes e o corte de verbas educacionais implementado a partir do ano de 2014.

Desse modo, muita energia e saliva foram gastas para a defesa e o ataque da Reforma Curricular do Ensino Médio, mas no momento em que adolescentes e jovens adultos não sabem ler, escrever ou fazer cálculos corretamente, deveria-se priorizar discussões referentes ao Ensino Fundamental. De acordo com dados divulgados em 2017 os estudantes têm um desempenho razoável em Matemática e em Português, mas esse desempenho cai drasticamente já na entrada do 6° ano do Ensino Fundamental. O analfabetismo funcional do universitário brasileiro têm suas raízes aí e a Reforma Curricular do Ensino Médio dificilmente melhorará esse quadro sem uma Reforma adequada na educação do Fundamental.

Em tempo: pesquisa realizada pelo Ibope mostrou que o brasileiro lê, em média, em torno de 5 livros por ano, sendo que ele só conclui metade disso, ou seja, 2,5 livros lidos por ano. Desses livros, apenas 1 é lido espontaneamente. Além disso, 44% da população não lê e 30% nunca comprou um livro. Talvez aí, na falta do hábito de ler, é que resida um de nossos principais problemas educacionais. E ele não será resolvido por nenhuma reforma burocrática de governo algum: essa reforma deve começar em casa, por meio do exemplo dos pais, para formarmos crianças, adolescentes e universitários mais proficientes e cada vez menos analfabetos funcionais no nosso Brasil.

Gabriel Feigel
Enviado por Gabriel Feigel em 28/01/2017
Reeditado em 28/01/2017
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