O outro e a incompreensão de si mesmo

Mitologia ou não, quando Cristo evita o apedrejamento de Maria Madalena, não estava posto em questão ali o suposto pecado, ou crime cometido. Seja em memes no facebook ou discussões acaloradas durante o almoço, o que pouca gente entende é que toda a trajetória do filho de Deus acontece no sentido de humanizar Deus, e não de divinizar a humanidade, ou um pedaço muito restrito dela. E não, você não está praticando a piedade cristã ao fazer caridade, participar de sopões ou simplesmente pagando seu dízimo se você o faz enquanto troca de rua ao avistar um mendigo, julga um homossexual ou simplesmente evita pessoas que não sejam "de bem", seja lá o que você considera que isso seja.

Supondo que você acredite no Deus cristão, não importando a vertente, em todas elas o "amor de Cristo" nunca é posto em discussão. Que bom. Mas porque é tão pouco praticado? Partindo dessa premissa, Cristo veio ao solo fazer algo que hoje temos dificuldades em sequer compreender. Seria sua missão amar incondicionalmente? Talvez de fato só ele seja capaz. Mas o interessante não é porque ele pratica esse amor, mas sim como! E como ele faz isso?

Se pondo no lugar do outro. Praticando empatia.

Ele vem a nós para sofrer como nós sofremos. Por isso nasce pobre, marginalizado e até certo ponto, perseguido. Ele precisava disso para saber como era ser todas estas coisas? Não, afinal ele é Deus. Mas, criaturas egoístas e teimosas que somos, aprendemos melhor pelo exemplo. É por isso que ele vem nos mostrar com ações, e não simbolismos, como é que se faz.

É por não saber se colocar no lugar do outro que não sabemos porque "coisa de preto, mulher, viado, pobre, etc." pode ofender alguém. E só fazemos isso porque somos incapazes de entendermos a nós mesmos, quiçá outrem.

Somos, desde muito cedo, ensinados a nos reprimir, a não nos aceitar e a nos julgar em série. Não podemos odiar, não podemos invejar, não podemos ser egoístas e no final acabamos fazendo tudo isso de forma travestida. Cometer todos estes pecados são aprendizados salutares para uma mente sã. É princípio matemático-filosófico básico: só podemos medir alguma coisa através de comparação. Só saberemos o quanto amar faz bem quando soubermos o quanto odiar faz mal.

Neste exercício constante de isolamento acabamos nos escondendo em caixas cada vez menores até encontrar uma em que só caiba a gente. Uma alma atormentada uma vez disse que o mal do século era a solidão, eu já penso que a solidão é o mal de sempre. É simples idiotia buscar mais motivos para nos separar quando deveríamos criar motivos para nos unirmos. Principalmente quando estes motivos são baseados em linhas imaginárias, quanto se tem no banco, cor da pele ou quem eu gosto de fazer sexo.

Estamos todos nós imersos em nossa própria arrogância desejando por um pouco de afeição e entendimento, pois todo opressor também tem seu lado oprimido e vice e versa. Se você estiver disposto a deixar o binarismo, e ver o mundo com todas as cores que ele tem, me permita o jargão religioso, faça como Jesus faria, ame ao outro, como ama a si mesmo.