Contraste
Enquanto a bola se esfola morro abaixo
A persegue sozinhos, um pé vestido e o outro no asfalto
Alegria a cada salto e tristeza, dor no impacto
Ainda resta esperança que alcança a lembrança de cada fato
Sem um gol, aquela correria só distrai a partida
Fome que contra-ataca a própria vida
Na espera do alimento à mesa
Sempre inconstante; dele, nunca a certeza
A segurança são os muros rebocados ao redor
Tijolos expostos expõem muito mais que o pavor
Lá dentro, sofrendo, há gente querida Que em silêncio grita ao luar pra entender por quê parira
Logo alí, depois da curva da indiferença
Outros pés caminham pra uma farta dispensa
Outras mãos aumentam o som para perder a referência
Da agonia alheia à mesa; frieza de uma suposta realeza
Realidades que parecem não se tocar
Exceto no farol ou na esquina
Onde o vermelho como sangue lembra a hora de parar
Mais que fazer o vidro abaixar,
É se apropriar da dor se deixar tocar
O contrário é o fugir de si enquanto não se é
Incorporado um ser vil que se formou da cabeça ao pé
Distante da forma divina que mostra o real
Que deu valor àquilo que era sem vida; pó; banal
A pior pobreza é a do ser
Que enquanto têm se esquece ou ignora que isto é temporal
E agora se vê diante de um tribunal
Sendo julgado por aquilo que fui