Contraste

Enquanto a bola se esfola morro abaixo

A persegue sozinhos, um pé vestido e o outro no asfalto

Alegria a cada salto e tristeza, dor no impacto

Ainda resta esperança que alcança a lembrança de cada fato

Sem um gol, aquela correria só distrai a partida

Fome que contra-ataca a própria vida

Na espera do alimento à mesa

Sempre inconstante; dele, nunca a certeza

A segurança são os muros rebocados ao redor

Tijolos expostos expõem muito mais que o pavor

Lá dentro, sofrendo, há gente querida Que em silêncio grita ao luar pra entender por quê parira

Logo alí, depois da curva da indiferença

Outros pés caminham pra uma farta dispensa

Outras mãos aumentam o som para perder a referência

Da agonia alheia à mesa; frieza de uma suposta realeza

Realidades que parecem não se tocar

Exceto no farol ou na esquina

Onde o vermelho como sangue lembra a hora de parar

Mais que fazer o vidro abaixar,

É se apropriar da dor se deixar tocar

O contrário é o fugir de si enquanto não se é

Incorporado um ser vil que se formou da cabeça ao pé

Distante da forma divina que mostra o real

Que deu valor àquilo que era sem vida; pó; banal

A pior pobreza é a do ser

Que enquanto têm se esquece ou ignora que isto é temporal

E agora se vê diante de um tribunal

Sendo julgado por aquilo que fui

Regis Rodrigues
Enviado por Regis Rodrigues em 29/03/2017
Código do texto: T5955751
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