Abstratismo Pueril.~*

Já pensei de todas as formas possíveis

Já repensei, apenas para constatar

Já parei e olhei a vista da janela

Já reparei, só pela beleza

Já ouvi de muitas bocas, de todos os jeitos

Já escutei, só para desencargo de consciência

Já vi tudo o que estava a minha volta

Já olhei, só para passar o tempo

Já fiz tudo o que pude

Já refiz, só para tentar alcançar a perfeição

Já chorei por horas sem motivo

Já sequei todas as fontes, só porque a mesa estava fora do lugar

Já deitei em campos floridos num dia ensolarado de verão

Já deitei em campos floridos, só para sentir o cheiro

Já sentei na praça para observar o comportamento humano

Já sentei na praça, só porque estava cansada

Já andei observando o céu e esqueci o meu caminho

Já esqueci o meu caminho, só porque não tinha para onde ir

Já decorei um poema bonito que não saía da cabeça

Já decorei um poema bonito, só para ficar repetindo na minha cabeça, enquanto a chuva batia na janela

Já olhei a rua e critiqueias pessoas que passavam

Já olhei a rua, escondida da janela

Já me tranquei no guarda-roupa e gritei bem alto

Já me tranquei no guarda-roupa, só para sair e ver a claridade de novo

Já escrevi páginas e páginas cheias de clichê

Já as reescrevi, só para ver se tinha alguma outra idéia

Já fechei os olhos, para ouvir atentamente o som do mar e me ver dali a cinqüenta anos, bem velhinha

Já me joguei no mar e fiquei boiando pra ver onde a correnteza me deixava

Mas fiquei com medo e voltei pro rasinho.

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Já andei sozinha na calada da noite

Já andei sozinha, só para sentir medo

Já fiquei sozinha no quarto por dias, sem comer, beber ou falar

Já fiquei sozinha, só pra me testar

Já falei por horas seguidas e não me senti melhor

Já falei por horas seguidas, só para ser ouvida

Já tomei remédio pra melhorar a dor

Já tomei remédio, só porque gostava de engolí-lo

Já tive dúvidas e perguntei; não sabiam a resposta

Já perguntei coisas inexplicáveis, só para saber se tinham a resposta

Já saí cedo e voltei tarde, na ponta dos pés

Já saí cedo, só para voltar tarde

Já fiquei horas sem dormir e criei olheiras horrendas

Já fiquei horas sem dormir, só para ter sono

Já disse que não, querendo dizer sim

Já disse que não, só para contradizer

Já cheguei querendo ir embora

Já cheguei, só para voltar para casa

Já saí querendo voltar

Já saí, só para querer voltar

Já apaguei imagens passadas distorcidas

Já apaguei imagens passadas distorcidas, só porque doíam

Já lembrei de coisas há muito esquecidas no fundo da memória

Já lembrei de coisas, só para não me sentir sozinha

Já me senti constrangida e quis enterrar a cabeça no chão

Já me senti constrangida, não lembro porquê

Já quis viajar no tempo e viver no século retrasado

Já quis viajar no tempo, só para mudar o mundo

Já quis ter poderes mágicos para fazer o que quisesse

Já quis ter poderes mágicos, só pela preguiça

Já vivi de sonhos em sonhos e esqueci da vida

Fui bruscamente acordada pela realidade.

Júlia Schneider
Enviado por Júlia Schneider em 08/08/2007
Reeditado em 12/03/2013
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