TEXTO OBJETIVO - 02

TEMPO VIVIDO

Hoje, logo pela manhã, assisti a uma mensagem na TV, na qual um idoso chamava atenção para as brincadeiras do seu tempo de menino, bem como as distrações. Por um instante fiz um retorno de quase setenta anos e me vi menino com meus doze, ou treze anos, num subúrbio da Circular da Penha, lá no Rio de Janeiro, residência de meus avós maternos.

Naquela época não existia televisão, embora já se comentasse pelo mundo jogos eletrônicos, celulares e coisas afins. Distraíamo-nos sempre em grupo, com brincadeiras de correrias, futebol em ruas, chamadas de “peladas”, futebol de botão, pingue-pongue, hoje tênis de mesa. Todavia o mais importante de tudo era o cinema, a chamada matinê de todos os domingos, isto é, a primeira sessão pertencia a essa faixa etária. O cinema que exibia o seriado “Flash Gordon – no Planeta Mongo”, uma ficção americana que só era exibido no Cinema Santa Cecília na outra estação de Brás de Pina. Lotação completa só da molecada. O grupo de meninos ia a pé, caminhava por mais ou menos quarenta minutos. Para nós era espetacular. No melhor do filme, cortavam e era exibida a frase: “Não percam o próximo capítulo”, acompanhada de questionamentos. Então, retornávamos e conjecturava-se o que aconteceria. Se o mocinho iria morrer, ou como se salvaria. E tínhamos uma semana, à noite, em que todos se reuniam para a discussão sobre o filme.

Escrevendo o texto, cheguei à conclusão que foi providencial a propaganda exibida, ratificando que, à minha época, as coisas eram diferentes e não havia tantos desentendimentos entre a criançada. Hoje olho para meus netos, que estão sempre atrelados aos celulares jogando, ou envolvidos nas chamadas redes sociais. Quando as famílias se reúnem em comemoração a algum evento, todos lá se encontram, mas isolados do meio, cada um habitando um mundo diferente, sem qualquer tipo de manifestações com os presentes, limitando-se ao sair, a um simples tchau. O pior disso tudo é que seus pais participam do evento, mas não abandonam os seus celulares.

Em 09/02/17

Pedro Costa