Outro conceito de liberdade...

Alguns dias atrás, conversando com um amigo, ele me disse algo que copiei por achar de uma lucidez ímpar:

"O amor que sentimos não é tão amor, a paixão não é tão apaixonada, assim como o ódio não é tão ódio e a raiva não é tão irascível. Daí a fantasia, muito facilmente, se torna simulação, quando dizemos que amamos, estamos na verdade emulando Romeu e Julieta que lemos, o filme a que assistimos, os poemas, etc... não é a emoção, mas a manifestação assimilada dela, que aprendemos com as fantasias..."

Achei isso bárbaro, pois a incapacidade de nos desvencilharmos de nossas próprias ilusões é a principal fonte de sofrimento humano. Cada pessoa cria seu próprio “mundo” emocional, passa a acreditar nele e a habitá-lo; daí a dificuldade em compatibilizá-lo com o mundo do “outro”: cada um permanece evocando fantasmas de imagens e emoções que criou como modelares para si próprio. Se o mal do século passado foi a solidão, o deste, com certeza, é a ilusão emocional e a nossa incapacidade para enxergar além da redoma de vidro que constitui nosso mundo particular (inclusive dentro dela mesma).

Quando aprendermos a encarar realisticamente nossas qualidades e defeitos, conscientes de que somos seres em permanente (re)construção e aperfeiçoamento, teremos dado o primeiro passo para experimentarmos uma liberdade muito mais ampla e duradoura, além de um estado emocional menos oscilante e dependente da aceitação alheia. Talvez esse conceito de liberdade a que me refiro seja difícil de ser assimilado, pois requer muito mais do que auto-conhecimento... como me disse uma amiga esta semana, a "limpeza" de nossos porões é uma tarefa árdua e requer coragem, acima de tudo.

Ruiva da Noite
Enviado por Ruiva da Noite em 13/08/2007
Reeditado em 15/08/2007
Código do texto: T604871
Classificação de conteúdo: seguro