Agonia

Estou deitada em minha cama sentido o ar fresco que sai da janela. Dentro de mim há algo morto, sinto dizer para mim mesma que quem morreu foi eu. Não me lembro da minha morte, nem se alguém foi ao meu velório. Talvez ninguém tenha ido, pois nas últimas lembranças que tenho de mim eu estava sozinha. Há menos de um ano para morrer o meu pai me disse que eu deveria me tornar uma pessoa boa, não brigar, não ser má, porque o pior fim que tem é aquele em que você morre sozinha. Quando o meu pai morreu eu fingi que chorei, eu gostaria de ter chorado verdadeiramente como o fez a minha irmã, mas tudo que consegui fazer foi chorar antes de dormir quando pressentia que ele iria morrer. E ele morreu. Olhei para ele gélido no caixão, e percebi que daquele jeito ele não poderia mais me fazer mal. Uma semana antes eu o havia calçado os sapatos e lhe feito o jantar, lembro-me de sentar ao lado dele e mostrar algumas fotos. Depois me despedi, como já se sabendo que seria a última vez. Nunca fui uma boa menina, nunca tive os melhores pensamentos. E todo mundo sempre soube quem era Catharina, ou quem aquele bebê que não chorava se tornou.

Friamente agora irei publicar esse texto que não irei revisar... Como quem não tem nada a perder. Pois quem eu era morreu, faz tempo...

Catharina Avelino
Enviado por Catharina Avelino em 17/10/2017
Reeditado em 17/10/2017
Código do texto: T6145415
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