Fatalismo líquido

Ergo-me às sombras do passado,

Da janela cega-me o brilho, o calor,

O fogo da existência acha-me os olhos.

Transpiro ainda desacordado, ante o hálito quente do mundo.

Não lembro de mim até que de ti acho as roupas esquecidas junto as minhas ao chão.

Ainda assim, esqueço-me. Acho-me de novo ao espelho (com um novo pelo branco na barba? Sorrio amedrontado.), lavo o rosto sem respostas, não sei se o próximo poema terá final feliz.

Me desdobro, discuto com minha irmã através de uma tela fria.

Calo os meus dedos.

Turva-se o mundo, gota a gota. Sinto o sal que escorre dos olhos, desço as escadas para receber o mundo, nele, em algum lugar há um discurso.

Uma história sobre nós dois, em algum lugar do tempo.

Teriamos filhos, talvez... talvez uma vez mais esquecerias as roupas comigo.

Talvez aprenderias a mim, respeitarias as sentenças sem sentido. Notarias como eu, a instabilidade semântica do amor,

E abraçarias a ti mesma e, amarias o mundo tal como é.

Descobri sonetos de saudade,

enquanto versava sobre a solidão.

No mundo há luta.

Só a paz para quem não a deseja.

Só há amor para quem o percebe.

Wan Carlos Firmino
Enviado por Wan Carlos Firmino em 01/11/2017
Reeditado em 19/12/2017
Código do texto: T6159562
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