Quarta-feira, 16h57min

Não posso acreditar que, outra vez, tenha me pegado escrevendo para você. Como se o que faço agora, aqui, fosse assim tão diferente... Eu tinha tantas juras de amor que sequer foram juradas; tantos sonhos imaginados que nunca conheceram a prática; tantas promessas... Ah, meu deus, tantas são as promessas que jazeram em meu peito.

Eu sou hoje o cemitério de bons sentimentos. Todos eles findos.

E é você quem me tornou assim. Você quem me afogou em mim. Quem matou, sem nem titubear, tudo aquilo que eu deixei crescer, pela primeira e única vez, em minha alma.

Tenho buscado na morte algum motivo para viver. Todos o fazem. A morte é, em última análise, a razão pela qual todos os seres humanos pretendem a grandeza por pelo menos uma única vez. E eu, que já morri em mim sem nem bem querer, ao nunca ter alcançado a grandeza, deito-me para eternidade no silêncio dos que nunca serão lembrados.

Não me chorarão. Você não me chorará. Você, que tem culpa exclusiva na evolução de minha morte, sequer me chorou uma única vez. E eu, que a ti jurei amor eterno e jamais deixei de fazê-lo, eu, hoje, me conforto na desistência da vida. E, cada dia que passa, nesse vai e vem que o mundo me propõe a superar todos os dias, dançando como se numa cantiga de escárnio e de maldizer, tenho em mim a única solução possível: ser consequência direta da minha falha e do meu surto. E ao falhar miseravelmente, noite após noite, eu me deito com a cabeça quente num travesseiro frio que não mais consegue me abraçar, tanto quanto você. Depois de uma dose ou outra, o mundo me soa excessivamente perturbador. A vida me causa repulsa. O medo de ter que vivê-la sem ti, sem saber novamente o que é o amor...

Ah, que saudade sinto de quando pude sabê-lo. Quando, mesmo que sozinho, eu jurava e amava por nós dois. Que saudade sinto de suas mentiras ao me dizer amor eterno. Hoje vejo, meses depois de nosso último beijo, que teu amor não valia trocados. Todos eles me alertaram. Os teus e os meus amigos. Ela nunca foi de amores e você é o escolhido pra ela, eles disseram. Enganaram-se, todos eles enganaram-se. Eu mesmo me enganei. Mas o fiz tão bem que ao longo de todos esses anos, eu esqueci de duvidar. Em momento algum eu ousei não ter certeza de que éramos jurados à eternidade. Errei, outra e mais uma vez.

Hoje, a insanidade me surge como escapatória das tristezas mundanas. Como num exílio, eu devaneio sobre tudo, e todos. Hoje mesmo, escrevendo neste pedaço de papel rasgado, eu já imaginei ser tanta coisa que nunca fui, nem nunca serei, que a normalidade me teria como louco, senão ridículo. Ora, que me venha a capacidade de o sê-lo, enfim.

Sinto que, como a tinta dessa caneta se esgota, minha vontade de escrever também se esvai. E é assim que deixo que eu morra em mim.