Um dia eu vou ficar bem

Um dia eu vou ficar bem, isso é o que continuo dizendo para mim mesma. Mas é difícil, sabe? Não é como se eu escolhesse bagunçar minha própria química cerebral. As pessoas dizem "faça exercícios físicos, isso vai aumentar seu ânimo", e lá vai Diana na academia. As pessoas dizem "se alimente melhor", e lá vai Diana montar um plano alimentar. As pessoas dizem "faça ioga, isso acalma muito", e lá vai Diana controlar a vontade de mandar tomar no cu.

Não me entendam mal, essas pessoas até estão certas, e se você é uma dessas pessoas, agradeço sua consideração e preocupação com o meu ser. Só gostaria que, às vezes, as pessoas também tentassem entender esse outro lado de como é estar na minha cabecinha. Sei que não é fácil, que muitas vezes me fecho diante do mundo e muitas vezes acabo sendo injusta com aqueles próximos de mim. Continuo tentando o que me sugerem, continuo escutando e tentando entender quanto tentam me explicar como a vida funciona. Mas é extremamente frustrante quando preciso de alguém para segurar minha mão e me manter nesse mundo e tudo que me oferecem são palavras que mais tarde ficam me auto-martirizando em pensamentos.

Esses dias li algo sobre a força de vontade funcionar igual um músculo, quanto mais você exercita, mais ela cresce e se fortalece. Admito que ri sozinha, ao mesmo tempo que faz muito sentido visto que quanto mais você mantém a rotina, mais difícil é sair dela; também me parece uma grande mentira porque quando a depressão chega, ela não chega de brincadeira. Ela vem com uma força que me gruda na cadeira, na cama, no chão...seja lá onde estiver, é ali que vou ficar. Ela atinge com dores que correm dos dedos, pelos braços, até os ombros e pescoço, passam pelas pernas e pesam na cabeça que meu cérebro parece estar se mexendo numa vontade própria, mas que não sabe se essa vontade é de permanecer no seu lugar ou explodir para fora dos limites materiais desse corpo a qual pertence.

Às vezes penso que não vale a pena estar aqui se tiver que fazer essa luta todo dia e viver através do cansaço, se todos os dias não conseguir dormir, se quando conseguir dormir tiver pesadelos, se quando não tiver pesadelos já acordar pensando qual o motivo de hoje que vai me tirar da cama. E é extremamente doloroso falar sobre isso, admitir que tenho um problema, pedir ajuda quando as palavras se perdem dentro de mim. Doloroso também quando saio de casa e as pessoas não tem a menor ideia do que está acontecendo porque eu não sei pedir ajuda, porque tenho medo de como as pessoas vão passar a me tratar se elas souberem, porque não quero que isso domine a minha vida.

Ah, e os momentos em que alguém percebe que tenho andando um pouco triste por aí e perguntam se está tudo bem, se aconteceu alguma coisa...a oportunidade de pedir aquele abraço logo ali e o que a pessoa aqui faz? Ela diz que não e parte pra outro assunto, ou ela dá um sorriso sem graça e vai embora, ou ela lacrimeja e gagueja sem saber o que fazer. E o que as pessoas fazem nesses momentos? Não sei nem dizer, muitas vezes minha memória se perde para organizar o que realmente aconteceu, o que eu criei que poderia acontecer, talvez alguma coisa que sonhei alguns dias atrás? Um caos que é apenas mais um detalhe que vem nesse pacote com ansiedade, bipolaridade, insegurança, pânico, a confusão que nunca se aquieta.

Só de chegar até aqui nesse texto já me dá uma (talvez falsa, mas talvez verdadeira, ainda por descobrir) sensação de que as coisas podem ficar melhor. Parece que estou entendo um pouquinho mais de como funciona, e talvez, em algum momento, entender como lidar com isso também. Um passo certo no caminho, enfim. Será? O que quis fazer com esse texto realmente não sei dizer, pensei que talvez não deveria me expor tanto assim, mas talvez também essa seja a minha maneira de pedir ajuda. Minha maneira de pedir que não desistam de mim, porque eu ainda não quero desistir de mim também. Uma maneira de registrar para mim mesma que apesar de todas as dores, não posso perder a esperança de que vou aprender a dialogar e lidar com essas dores.

Um dia eu vou, sim, ficar bem é o que continuarei dizendo, até que, algum dia, esse dia se torne o hoje.

Diana Lopes
Enviado por Diana Lopes em 14/12/2017
Código do texto: T6198940
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