SILÊNCIO

O silêncio nunca é a alternativa mais fácil. Quando precisamos nos recolher, diante da falta de forças para tentar, o silêncio não é a primeira opção, ele sempre toma à frente sem pedir licença.

Hoje, ele acalentou-me com tanta delicadeza que não me restaram dúvidas das suas razões. Eu me rendi à sua calma, recostei-me ao seu ombro e pedi para que me fizesse companhia do seu jeito ameno e misterioso. Sem demora, me traiu. Como quem não tinha escrúpulos, gritou ao meu ouvido já ensanguentado de tanto escutar palavras afiadas.

Poucas vezes não perdoo ou me dou ao luxo de odiar, dessa vez não seria diferente... Não olhei em seus olhos, não vi sua alma ou lhe dei o prazer de ser escutado em suas lamúrias; apenas continuei lá, ao seu lado, afinal estava carente.

Traiçoeiro. Sínico. Sozinho. Essas definições não miraram apenas um de nós. Talvez o silêncio não seja bem-vindo porque ele não difere de quem somos diante das aflições desta vida. Ele não é menos ou mais frágil do que nós. O silêncio é caridoso; senta ao lado de quem precisa, sem licença ou cumprimentos, apenas em presença. Sua falta é sentida como um eco, distante e perto, calmo e feroz.

O silêncio nunca é a alternativa mais fácil.