PEPTÍDICO

Que a proximidade dos pontos de tormento

Não modifiquem o meu enredo

E sabendo que não acaba

Rezo

Que diminua a dor do veneno

Que os traços do que nunca foi dito

Não me façam cair em descrença

Talvez eu ainda seja parte de alguma verdade

E estratégias da mentira

Quadros brancos da existência que se ocupem de meu pranto

Enquanto dou as costas às paredes grafitadas de felicidade

E ainda que saiba da ida

A esperança acende uma vela em saudade

Nos instantes que encaro a vida

Que esta me agrida com menos força

Ao me ligar à correntes estranhas e enforcar momentos

Meu espelho de miséria em entranhas de vingança e maldade

Então que eu padeça agora para machucar menos o espírito

Que talvez possa dar um sorriso ao sentir-me desaparecer

Resisto à tudo e esqueço que não se esquece o que é parte dos ser

Que eu aceite que sou apenas um dia

E que busco a razão mas nasci de instinto

E minhas visões lógicas não aplacam as dores de um coração selvagem

Que num cinza frio se faça de abrigo

Que um pulsar sangue vermelho me faça vontade

É tarde, e minhas frases não têm mais um sentido qualquer

Talvez sejam um mero sinal

De meu silêncio a gritar no espaço

Ou do meu réu

Condenado

A obter sempre o perdão.