Ela não está mais aqui

Vagas palavras abaixo de um olhar distante, uma gota se destaca em meio a água que cai sobre um garoto, sem forças observa e aprecia sua taça de vinho partir e rastejar até a liberdade:

-Um brinde, a todos vocês!

Uma voz um tanto rouca, abafada pelo vapor que preenche todo local e escapa inocentemente pelas frestas da porta,após fugir ele dispersa-se, invisível a percepção de todos.

O mundo nunca percebeu, talvez por descaso ou mesmo falta de atenção, mas de fato não há justificativas, nem ele soube entender o que aquele filme tentava mostrar, eram apenas cenas sem importância e uma dor imensurável que disputava vitoriosamente com a lâmina mais frígida, dona das mais gloriosas marcas de batalha.

O tempo passa, mas aquele filme continuava a se repetir, todos os dias, passando de um curta e se a adaptando a um longa metragem, onde seu protagonista não era capaz de atuar.

As marcas já não podiam ser escondidas, mas em um refúgio confortável elas estavam seguras ,pois quatro paredes cinzas eram seus guardiões:

-Uma, duas, três, quatro, cinco...

Deitado sobre a cama tentava pegar o céu enquanto contava quantas decepções ainda caberiam em seu corpo, presumindo também quantas mais ele suportaria, mas após mais uma tarde pacata e destrutiva, uma música renasce das cinzas e uma voz doce e pura canta as asas que acolhem o garoto para a vida:

- Olá...

A Luz coloriu as parede com uma série de diferenças, e todos os dias, ao menos por cincos minutos o jovem sentiu-se vivo, alguns pequenos momentos haviam compensado todos os outros, todas as dores e cicatrizes, se tornaram apenas espólios de uma vida comum, interpretada por mais um jovem solitário.

-Que seja eterno até o fim desde dia..