Coração da periferia

A rua na esquina do lado daquele beco que encontra a outra rua sem saída. Ali é que dobra meu coração. No cantinho abriram um caminho estreito, pro tráfico e pro molejo de esquinas paranóias que deliram os pequenos que agora são gigantes. Ali não te busco, sempre é escuro e mesmo quando tem sol meu coração chora de medo. Meu coração vira a direita, casas familiares, tijolos que me conhecem. Sonhos destruídos, outros nascidos e correndo pela rua. Como as ruas estão cheias, e novos olhares iluminam a quebrada. Meu coração agradece, chora muito. Posso perceber quem me tornei sob as luzes ausentes dos postes e sobre o piso quente que me abrigou nos meus abismos mais cruéis.

Como sinto orgulho da minha quebrada, e de todos os cacos quebrados do meu coração, que se perderam e não mais voltaram, e para os que me completam mais uma vez.

Estou virando, e me virando pelas ruas do centro. Mas meu coração sempre vai descansar e se reencontrar na periferia do meu lugar.

Brígida Oliveira
Enviado por Brígida Oliveira em 07/03/2018
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