O ENGANO DO AUTO-ENGANO

(O desabafo de um enganado)

Eu estava enganado

Ao pensar que podia ouvir sem praticar.

E engodado pela minha própria ilusão,

Passei a vida como um ouvinte superficial,

Desprovido de qualquer preocupação,

Buscando coisas nas quais me impressionar.

Eu estava enganado!

Ao achar que estava certo e jamais iria errar.

E seduzido por falsas e fúteis convicções,

Acabei caindo no poço do engano dos sentidos,

E até hoje carrego o peso das reações,

De ações loucas e impensadas

Que me fizeram o coração amargar.

Eu estava enganado!

Quando pensava ser algo que eu não era

E estribado na vaidade do meu coração

Fiz dos meus talentos, habilidades e dons

A ferramenta de busca da minha realização

Sem ao menos me importar

Se a minha motivação era ou não sincera

Eu estava enganado!

Quando pensava que não me faria mal

Andar com más companhias.

Mas acabei corrompendo os minhas convicções

E isso não aconteceu tão rápido eu diria

Foi uma concessão aqui, outra concessão ali...

E esse é o problema de uma vida banal.

Eu estava enganado!

Ao pensar que poderia ser um religioso

Sem ter que refrear a própria língua

Como um tagarela soltei palavras ao vento

Colocando a minha própria sorte a mingua

Porque palavras são sementes

E o resultado delas pode ser desastroso.

Eu estava enganado!

E o tempo passou tão de pressa

Com todas as ilusões e planos

De alguém que na vida foi tapeado

E iludido por seu próprio engano

De achar que não estava enganado

E que a realidade não era essa.