Sobre verdade, mentira e liberdade

O futuro é um luxo. Tudo é incerto. Não existe mentira. Não existe verdade. O que existe simplesmente existe, e jamais será igual ao que pensamos ser. Afinal, o pensamento já tem a sua própria existência.

Nada tem me irritado mais ultimamente que as pessoas e suas certezas. A ilusão de viver no mundo da verdade as torna intolerantes e arrogantes. Como eu fora até há bem pouco tempo, e provavelmente ainda seja em muitos momentos. Às vezes também necessito de certezas.

Mas foi de uns dias pra cá que deixei de gostar de termos genéricos. Tenho evitado-os ao máximo. É lógico que às vezes se faz necessário universalizar a realidade, mas, ao fazer isto, perde-se muito dela. Perdem-se as peculiaridades, que, no fim das contas, é o que pesa em uma compreensão mais aproximada do que seja o mundo.

Tais constatações muitas vezes trazem angústia. A angústia de não saber quem sou, de não ter segurança em meus propósitos… É por isso que digo que a vida é a maior negação da liberdade. São dois termos incompatíveis. Viver é a maior prova de que não se é livre. Mas, sendo assim, a liberdade estaria na não existência? Ou a liberdade simplesmente não existe? Ou as duas alternativas são exatamente idênticas?

Talvez, ao contrário do que é amplamente propagado, não exista liberdade enquanto exista pensamento. Talvez o pensar não seja mais que evidência de nossa imperfeição, ignorância e aprisionamento; e, quem sabe, nossa pior punição...

Só consigo imaginar a existência de um “deus” enquanto ser mudo de pensamentos. Pois só há pensamentos onde há dúvidas, só há dúvidas onde não se está no controle, só não se está no controle quando se é dependente, só se é dependente quando não se é livre…

Absurdo? Verdade? Mentira? Nada disso! Apenas a resposta que encontrei no momento e que provavelmente já não será a mesma amanhã; justo como tem ocorrido com todas as respostas que encontro. Mas o que neste mundo não é contraditório? O mundo só é mundo porque há contradições. Portanto, só vos peço o direito de poder contradizer-me.

Não existe mentira, não existe verdade. Existem os homens, existe o mundo; e existe a circunstância em que cada homem, que é único, olha para o mundo_ o qual também individualiza-se nos diversos momentos. E, assim, também o homem torna-se diferente em relação a si mesmo no tempo. A mutação parece ser a única regra. A verdade, que é fixa, não pode existir em um mundo mutante.

Eleanorrigby
Enviado por Eleanorrigby em 05/09/2007
Reeditado em 01/05/2012
Código do texto: T639787
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