Tudo o que está vivo é pra morrer

Tudo o que está vivo é pra morrer

Por. P. Jorge Ribeiro

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Existir é se encontrar com a morte. Se é verdade que quem tem olhos tem medo, também é verdade que tudo que está vivo vai morrer. Certeza inexorável e contestada. Absurdo nascer, mais absurdo ainda morrer, pode-se gritar. Essa é a lei intrínseca de todo vivente, caminhar para a morte. Pode-se aliviar acentuando a morte física para fugir da morte eterna, mas ela sempre existe. Persegue, encontrar, carrega consigo. A morte é implacável. Ela tem mil desculpas e mil formas de se aproximar. Pode-se criar mecanismos de defesa, de enganos e mascaras, ao final a morte abocanha a tudo e a todos. Desde a pedra ao ser mais iluminado: todos enfrentarão a decomposição e a provisoriedade de existir. Morre os loucos e também os insensatos, os sábios, os santos e os corruptos. Todos estão sujeitos ao crivo da irmã morte. Ela é despretensiosa e despreconceituada. Acolhe a todos sem exceção. Gera medo dar-se conta que se tornará pó, cinzas e nada mais. Para que tanto orgulho e tanta vaidade, cinicamente pode-se perguntar. Mas qual o propósito do mesmo existir? Estar no mundo e vivenciar o que cabe ou construir a própria estrada? Construir torres ou estátuas, fazer implantes ou retardar os sinais da velhice, seria uma forma de manipular ou tentar escorregar dos braços da morte? A consciência de não estar mais gera perplexidade. Cria-se muitos laços e se estabelece tantas relações e depois tudo se afogar num piscar de olhos. Ironia! A indiferença é uma forma de não pensar a morte, assim como certas religiões e filosofias. Sempre é a mísera esperança de que ela não chegue. Dar-se conta continuamente que tantas coisas que estava, já não estão, tanta gente que vivia e não está mais nesse plano, o que pensar e como reagir? Tudo é caduco, inclusive eu. A vida é um teatro que cada um exerce um papel e depois se recua? De onde vem essa mania de eternizar-se? Por que não aceitar o obvio? O que não se aceita é a morte ou como ela se apropria dos viventes? A ressurreição! É uma certeza só para quem crer, mas sem garantia de realização. É uma hipótese. Bom para se pensar e se viver esperando. Mas a morte chega sem distinção. Morre o crente e o ateu também. Aos olhos naturais a existência é um fracasso, é fadada ao nada. Visivelmente toda morte é uma desgraça, um projeto falido de eternidade. Mas por que esse apego ao que pertence aos outros? A vida não é de ninguém, pertence a um outro sim, quem tem o controle de seu aparecer e esvair? No máximo se apropria de algumas de suas propriedades para ser algo mais próximo e dar sentido de pertença. A vida é dom. Gratuidade pura. Existir é administrar essa vida imbuída em diversas formas de surgir. Então desaparecer não seria um drama. É lei da vida. Tudo que está vivo é pra morrer. Alguns desses viventes deixam marcas, outros passam desapercebido mesmo. O drama da morte é o drama de querer se apropriar do que não se sabe bem o que é. Pretensão e apego! Não aceitar essa vulnerabilidade da existência provoca delírios de dominação e de absolutismo. E tem gente que se acha alguma coisa. É nada mais que poeira acumulada. E a graça? Ela aperfeiçoa e não cria uma natureza. E a natureza dos existentes é transeunte e contingente. Então qual o propósito de existir? Perambular em vista de uma terra prometida… existe? Essa já é outra história.

Pejotaribeiro
Enviado por Pejotaribeiro em 01/11/2018
Código do texto: T6492053
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