O CAPITALISMO É UMA INVENÇÃO DO DIABO?

O CAPITALISMO É UMA INVENÇÃO DO DIABO?

Vamos à História.

A partir do século XII a conjuntura socioeconômica mundial se transformou em consequência de fenômenos que provocaram mudanças irreversíveis nos relacionamentos entre os senhores e servos, pessoas e as propriedades, religiosos e crentes. Ao longo de dois ou três séculos, tudo mudou. As Cruzadas renovaram o comércio entre Europa com o Oriente, a circulação de moedas desmontou o sistema de trocas de mercadorias, base do feudalismo. A Peste Negra reduziu drasticamente a população, ocorreu leve êxodo rural. As fortalezas chamavam-se burgos e com retomada do crescimento da população tornaram-se cidades. Denominaram burgueses os mais abastados, que precisavam contratar trabalhadores, pagos em moeda, para manter e aumentar seus ganhos. Ao conjunto de burgueses chamou-se burguesia, nova classe social que detinham o poder econômico da cidade e substituíram os senhores feudais. Aos que só tinham seu trabalho a oferecer e possuíam, via de regra, prole numerosa, chamaram de proletário e seu conjunto de proletariado. Estava configurado o início do sistema mais utilizado, mais contestado, mais cruel para muitos e mais justo para outros. Um verdadeiro sistema camaleônico, que se molda, se adapta, se modifica, desde que a burguesia garanta o novo componente vorazmente buscado: o lucro e o aumento de riquezas, advindos em boa parte do trabalho do proletariado. Deu-se então a esse novo tecido socioeconômico o nome de capitalismo. A palavra capital vem de “capitia”, cabeça em latim, como sendo a parte mais importante de um organismo. Adotou-se a palavra para nomear os valores e propriedades que permitiam aos burgueses utilizar as forças produtivas com a principal finalidade de gerar cada vez mais capital. As forças produtivas, compostas de meios de produção (dinheiro, propriedades, associações) e força de trabalho (trabalho dos proletários). O capitalismo alastrou-se pelo mundo conhecido a partir da Europa Ocidental. Infinitamente mais refinado que o feudalismo, que sucedeu, o capitalismo revelou-se uma Hidra de Lerna cujas cabeças aparecem espontaneamente, e dificilmente corta-se uma delas. Adaptando-se à cada época (comercial, industrial, financeira, informacional) e provocando profundas alterações na sociedade, o capitalismo trouxe progresso por estar sempre em busca de novas maneiras de obter lucros, também provoca pesado custo social nos países de governos tíbios, que se rendem aos burgueses como definidores da política e economia locais. Essa ambiguidade de características colecionou sérios inimigos, culminando com o surgimento do socialismo. Iniciado por forte influência da Revolução Francesa, que pregou igualdade entre as pessoas, a partir do século XIX o socialismo colecionou pensadores e tornou-se inimigo mortal do capitalismo. Baseado em excelentes princípios, revelou-se péssimo em sua implantação por recriar diferenças imensas entre governantes e governados, o socialismo até agora não se perpetuou sem o uso de força e cerceamento das liberdades individuais. O capitalismo, em que pese a manutenção e aumento das diferenças econômicas e sociais, se adapta aos regimes democráticos e, quando fora do trabalho, o cidadão possui, dentro de suas possibilidades, a mais essencial das necessidades humanas: a liberdade. Mesmo enganosa. Acredito que o aperfeiçoamento da legislação e governos austeros façam do capitalismo um sistema muito bom. Aliás, no livro “Rumo à Estação Finlândia”, Edmund Wilson, afirma baseado nos escritos de Marx, que se conhecesse os Estados Unidos hoje, ele, Karl Marx, consideraria próximo do paraíso que idealizou. Mesmo porque Marx nunca foi socialista e sim comunista, chamava o comunismo de “socialismo científico”. Mas isso é uma outra história.

Paulo Miorim 08/03/2019.

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 08/03/2019
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