É honesta. Não mente, não consegue mentir. Gélida, brutal às vezes, mas nunca faltara com a verdade. Nunca dera três tapas nas costas e dissera que tudo iria ficar bem. Nunca prometera o que não poderia dar. Nunca surpreendera com um gesto mais ríspido, com uma palavra súbita que ferisse. Nunca sumira num momento de angústia. Pelo contrário, era exatamente nas horas mais graves que se fazia mais presente, que abraçava mais forte. Envolvia como um manto, como uma capa. Não deixava escapar nenhuma reentrância do ser. Por outro lado, não aceita também ser enganada. Se o fizer, virá mais tarde acompanhada de remorso, de culpa. Pode-se tentar anestesiá-la, diminuir a sua sua presença, evitar os seus desencontros. Porém, não se trata, não diminui. Sempre que vier, a dose do seu antídoto deve ser maior para que o mesmo efeito seja atingido. Todavia, não posso apontar o dedo e julgá-la cruel. Talvez esteja a mostrar algo, talvez queira que compreenda uma lição, talvez espera que refaça a narrativa de algum evento. É o espinho, é a manhã mais fria do inverno, é a pedra, é sólida, é extraordinariamente sólida. Desconfio que seja o preço último que a flor deve pagar para daí desabrochar.