Complexo alterado de uma noite de temperaturas baixas

Peguei o pedaço do pedaço

E desci sem rumo as escadas

Não vi o que tinha que ser visto

Não quis ouvir nem do doce nem do ácido

Crescemos por meio dos grandes e suntuosos rojões

E vemos a continência para seres de pouca história

Assistimos espetáculos que eram aplaudidos por meia dúzia

Percebemos que escondidos haviam bem mais insatisfeitos

Uma pessoa de meia idade que se esconde atrás de um cifrão

O mais improvável delinquente, que por conseguinte delinque

Os mais costumeiros em quietude, borbulham e se aquietam

As mais leves palavras se tornam pois, ferramentas

Mas os que falam, por muitas vezes são acusados de anarquistas

Mas os que sentem sede, por muitas vezes são percebidos por incomodantes

Mas os que mordem os lábios, gotejam esperança

Os que aludem o improvável, ainda que silenciosos

Os que acreditam que não somos peças mortas

Os que não aceitam que a migalha conduz ao circo

Os que por serem gente, se demonstram de descontente

Os que não se importam com a primazia

Que não conhecem o sentido do se calar

Que não vivem pelo dito que não foi dito

Que não faz da utopia objetivos, mas que tenta a todo instante mostrar a relidade

É o menino que corre no meio das ruas

E o menino que traz no largo sorriso a inocência

É o jovem que carrega consigo o sufoco

É o se sentir pequeno ainda que grande

É o adulto que não entende que pode entender

É o adulto que não percebe aquilo que deve perceber

São os sonhos que não são sonhos

São os traços de verdade que se fazem realidade

E são os pequenos gestos que nos fazem mais do meros guerrilheiros

É o acreditar que ainda existam pessoas que são mais do que indiferentes

É o acreditar que ainda há mudança, e que a mudança não é parte. É sentido

Que a mudança é necessidade

É perplexo do que foi simples, e é simples pelo que já foi complexo

É vontade de se tornar próximo de si

É estrutura, e reconhecimento, é vida

É calar-se , e ainda assim emitir indignação

Tornar-se velho, por pensar. Conseguindo, pois, se encontrar.

Não se juntando aos ratos, não dissipa a doença

Não se reconhecendo rato, não justifica a desgraça

Não vê graça, não pensa pelo que já foi motivo

Não torce pelo que ainda é pretensamente falho

Não atira naquele que se mostra rei

Não faz do homem o Divino

Não corre do Divino ao homem

Se cresce, ativo se torna por ser paz

Se torna a paz em si, leva no peito a fagulha

É esperança viva, é acreditar no amanhã

E deixar de lado as lágrimas, é ver o riso

Contemplando o erro do ser mais baixo

Contemplando o grau mais mínimo de sabedoria

Se tornando pouco em pouco um traço

Traço que se torna mais do que apenas algumas palavras soltas

E que se entorna e faz limites

E que separa os que estão juntos pelas linhas imaginárias

E criam essas linhas, e as trazem para a realidade

E o velho que nem é tão velho se desmotiva

Não vê esperança naquele cidadão de bem

Apenas percebe, e se percebe se cala

Se acomoda, e talvez espere não mais que o último Adeus

E por se fartar de si, não se empondera

Não luta, e se luta é apenas pelo que se tornou

Coleciona relógios de ouro, mas não sabe discernir o tempo

O mundo está cheio de tolos

Os tolos ganharam para si, um mundo

Fizeram do planeta uma casa

E jogaram lixo no ideário

E fizeram do ideário pouco em nada

E contaram o que contam para os seus netos por vergonha de não se levantarem

De vergonha de se indignar, por medo de ser não mais que uma falha

Mas ainda assim sorriem, e vêm os truculentos poderosos se fartar da carne

Talvez peguem as migalhas, talvez nem isso

Decerto, nem isso.

Claudemir Evangelista
Enviado por Claudemir Evangelista em 10/05/2019
Código do texto: T6644044
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.