Da alma superaquecida

Os olhos superaquecidos por tudo que vejo. Os movimentos humanos que vão se desenrolando à minha frente, com suas causas e conseqüências. Tudo que vejo é movimento exalando, exalando por todos os cantos. A essência é movimento que me fascina. Muitos gestos, passos, pernas, vozes em vários tons, várias cores, como se eu passasse em câmera lenta entre os corpos originais, ou os corpos me fossem alheios – e os são, em verdade. Como se estivéssemos todos mergulhados num não-movimento ainda despercebido, que nos remete ao início da vida. Sou um espectador que assiste a tudo de muito longe, de cima, sem revelar-se à luz dos outros olhos. Sou o que observa, espreitando a unicidade dos gestos que nunca se igualam. E chego a ser irreal, pois não alcanço a entonação certa; não alcanço o paraíso desnudado. Falo do movimento dos meus olhos. Do alheamento dos corpos na terra, na água e no ar. O fogo destrói os corpos; superaquece a alma. Falo do fogo?

Rosiel Mendonça
Enviado por Rosiel Mendonça em 23/09/2007
Código do texto: T664674
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