Entre nós
Nunca me sinto tão sozinho do que quando estou no meio da multidão. Me parece que esse paradoxo se mostra tão feroz e não perdoa minhas incertezas, medos e angustias. A multidão se faz raivosa, impaciente e insensível com os desejos pessoais de cada um; afinal, ali não é lugar para se preocupar com anseios individuais. Me sinto bombardeado, mesmo que de forma osmótica, por esses pensamentos, expectativas e pelos mais infames modos de pensar e agir. Cada um com sua própria verdade, como se fossemos totalmente estranhos uns aos outros, como se não compartilhássemos os mesmos 23 pares de cromossomos, ou como se não tivéssemos as mesmas necessidades biológicas. Ouço das pessoas uma vasta gama de murmuras, difamações e calunias que são proferidas ao tentar explicar como as coisas são, ou como deveriam ser, más isso, sem que se tenha o mínimo de preocupação com os assuntos relacionados a elas próprias, ou que parem para refletir quais são suas atitudes em relação ao próximo. Às vezes, é extremamente difícil ser a multidão sem se esquecer que no final somos todos seres humanos e não inimigos que convivem sobre o mesmo teto, ou não se sentir um estrangeiro em sua própria terra.