Sendo em silêncio

E caio, mais uma vez, na minha questão do silêncio. Esse estado das coisas já parece ter nascido comigo, não sei bem. Numa tentativa de me manter concentrado, eu ouço o barulho das coisas, do mundo; o barulho que a vida faz, por estar viva. Ouço também o silêncio que se adere a todo esse barulho, disfarçadamente. O próprio barulho cai no silêncio, por fim. O silêncio, meu deus, atravessa a minha carne. Meus tecidos se contraem. A força do silêncio me atravessa em inúmeros feixes invisíveis. O silêncio se instala no meu organismo como uma grande raiz cheia de vida. O silêncio é raiz, caule e folhas. Sou terra fértil. Sou silêncio. Sou a substância que corre pelas raízes e atinge o ápice. Sou a seiva que escorre, e sou também o corte, a ferida aberta no tronco da árvore. Sou cada pedaço de vida. Sou cada instante sonoro. Sou o ato e o fato. A língua amargada. Sou o vôo rasante. A esperança diária de que o Sol surja do fundo do mar. Sou o mar e o Sol. O sal.

O silêncio sempre tem histórias para contar...

Rosiel Mendonça
Enviado por Rosiel Mendonça em 29/09/2007
Código do texto: T673421
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