Ponto cego

Hoje eu estive a pensar: qual o ponto em que a coragem, a força, a determinação e a persistência em um relacionamento amoroso deixam de ser amor para se transformarem na falta dele?

Qual o ponto em que a virtude de amar toma o rumo contrário da correnteza para se transformar em esforço desnecessário, perda de tempo e anti-virtude?

Qual o ponto, meu Deus, em que o excesso de amor por um homem denota claramente a falta de amor-próprio da mulher?

Qual o instante preciso que marca a hora do grande salto, a hora de pular do barco antes que ele naufrague no descaso, na indiferença, na falta de interesse dele?

E as perguntas foram me assolando durante toda a noite como tempestade em alto mar fustigando os rochedos. Mas pela manhã eis que o farol da sabedoria surge majestoso a minha frente e tão claro como o sol que delimita a noite e o dia foi dissipando minhas dúvidas no nevoeiro da manhã e, mais claro ficava a cada passo que eu dava em direção á luz que há em mim.

O ponto que eu procuro chama-se reciprocidade e foi nele que ancorei as minhas dúvidas. Lutar por um homem que não nos quer é como lutar contra o próprio tempo. Não temos a menor possibilidade de vencê-lo. Lutar por um homem que não nos quer, além de perda de tempo é falta de amor. E que homem a de confiar no amor de uma mulher que não tem amor a si mesma?

Eu sei que falar pelos outros é no mínimo perigoso e ingênuo, mas eu desconfio que, nenhum. E isso não serve só para os relacionamentos amorosos, mas as pessoas em geral nos dão o exato valor que mostrarmos a ela que nós temos. (Edna Frigato)