Animais do Paraíso

“Sabe, um dia todos nós iremos dizer um último adeus, não eternamente, mas nessa encarnação, fomos feitos para nos despedir, como o forte foi feito para cair, não é maldição muito menos benção, mas conhecimento”.

Eu queria nunca ter acreditado naquelas palavras dolorosas, ele sabia o que dizer e como dizer, não me magoaria tão fácil mesmo que suas palavras fosses verdadeiras e imbuídas de realidades que não estava preparado para enfrentar. Eu me segurava para não chorar e eles vinham diretamente me acalmar, eram tantos seios maternos e paternos que eu não sabia como fugir daquele calor, muito menos fugir das realidades cruéis que já me preparavam para aceitar.

Mas todas as vezes que me sentia a ponto de um colapso, eles procuravam me confortar, me enrolavam em cada braço até mesmo os que tinham dificuldade de expressar qualquer coisa, mas com todos os esforços de me colocarem em um local quente, futuramente me esperava o frio.

Até que um dia me demonstraram confiança para cantar aquela canção, a canção que eu mais amava e adorava, sentia tremer, sentia arrepiar, sentia esperança:

“Eis quem ouve para todos os seres,

Quem sabe qual o nome dessa trupe adiante,

Deixem de lado todos os pareceres,

Somos todos animais semelhantes.

Nós somos animais do Paraíso!

Abandonados por Deus abaixo do céu vitral.

Somos animais despercebidos!

Deixados como estrelas que despregaram do céu celestial.

Quem de passo seguirá tal pássaros alados,

Com quanto rastejo terá chegado répteis aliados,

Alimento necessário para o gorjear do corvo,

Vivendo nesse mundo ou n’outro!

Somos animais do Paraíso!

Deixados para a eterna reencarnação,

Somos frutos proibidos do Arrisco,

Seguidores fiéis dessa bela canção,

Pois calma tu o coração em brasa,

Qualquer medo se desfaça,

Pois antes cair de paixões pelo mundo,

Que ceder a sua própria desgraça!

Grite e persevere o quanto conseguir,

Os animais do Paraíso não o deixarão cair!

Corra e se rasgue nos espinhos da Morte,

Os animais do Paraíso não o deixarão sem sorte!

Siga com toda a sua espada em diante,

Os animais do Paraíso são seu amor constante!

Dentro desses braços seguirá seu dilema,

Os animais do Paraíso serão parte da vida serena!

Não perca sua fé nessa suicida oração,

Os animais do Paraíso do seu lado estarão!

Por mais que seja difícil,

O desejo de desistir é seleto,

De todos os amores que puder escolher,

Escolha sempre o completo.

Acabará um dia que o sol não nascerá convosco,

Teremos que dispersar nosso amor sincero,

Talvez um dia Deus sorrirá conosco,

Aceite esse pequeno voto seleto.

Por todos os sorrisos que deixemos de sorrir,

Talvez o sangue que não vá a escorrer,

Por mais que a vida o faça ruir,

Sempre é tempo de refazer.

Nesse peito quente procure amor,

Seja pelo corpo ou pela alma como for,

Mas dói e irá machucar,

Não deixemos nunca de amar.

Os animais do Paraíso nunca irão te deixar,

Veja isso positivamente,

Os animais do Paraíso voltam ao lar,

Definitivamente,

Definitivamente,

Sê sorridente.”.

Acabou que eu sou Arauto, mas me peguei perguntando depois de alguns anos, de forma que eu nunca havia pensado dessa forma ou como isso aconteceu. Se eu sou alguém que carrega tamanho farto e não quero nunca desistir, carregando tal espada colossal consigo e mesmo que lhe faça sofrer:

-Que dia eu coloquei essa armadura que tanto pesa a minha alma?

Acabou que eu sofri tanto que eu preferi me defender, consequentemente me fechei ao novo e muito mais a novas formas de amor, acaba que eu sei amar mas tenho medo de enterrar qualquer outra pessoa, pois eu não quero mais perder os sorrisos que me rodeiam, a mocidade que eu vivo me faz querer fugir, o modo novo de viver me convém a repreensão interna.

Eu só queria ser feliz a ponto de conseguir arrancar os sorrisos e entender que eles são sinceros, esse sentimento de união e amizade, o amor das pessoas pelo próximo que eu não consigo mais confiar, acaba que eu me prendi num mundo que o amor existente são daqueles que eu mesmo enterrei.

Esqueci do mais importante de tudo: Apesar de ser um Corvo Cerúleo, símbolo de morte e até mesmo trazendo o fim para certas vidas passageiras.

Continuo eternamente sendo um Animal do Paraíso.

Espero um dia alguém entender o quanto eu necessito ser amado como eu amo discretamente as pessoas a minha volta, pois se continuar de modo que seja difícil a minha mudança, vou morrer sozinho igual dizia meu Mestre.

Gostar é uma escolha,

Amar é inevitável.

Eu quero ser amado do modo que eu amo, pois estou cansado de sofrer.

No final, as músicas ainda dançam e festejam na minha mente como brisa de verão. Eu quero ser amado tão intensamente de forma tão verdadeira que amargura do meu coração se vá.

Eu quero ser amado como nunca fui, apesar de ser um homem que carrega uma força esmagadora na alma, ainda sou menino que só precisa de amor incondicional, sem limites. Me ame mais do que me amo, já que meu amor fica donde os lábios não conseguem dizer, junto com os sentimentos que eu não consigo demonstrar. Só preciso lembrar como é tocar uma corda de ouro.

É um socorro que só uma pessoa me tem, aquela de fato que eu senti tocar minha alma e me deixou com sede. Não quero ser mais sozinho comigo mesmo, por favor. Quero poder morrer sem mágoas de forma que eu possa encontrar todos e demonstrar que estavam enganados sobre minha solidão, que eu possa demonstrar o melhor sorriso que posso proporcionar.

É um pedido para ser amado.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 03/02/2020
Código do texto: T6856949
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