Fênix

Chove.

Há dias em que a água que cai do céu se mistura com as lágrimas que eu ainda aprisiono dentro de mim.

Lágrimas de alívio, de solidão, de reencontro, de emoção.

Eu chovo, e renasço em cada gota. Por vezes mais forte, mas sem jamais deixar de me permitir ser.

Ser aquilo que grita dentro de mim e do qual eu não posso fugir.

Eu caminho pelas ruas da cidade, tais quais artérias abertas que sangram, como também sangra meu coração em reconstrução.

Vivemos uma relação mimética, a cidade e eu, Se ela sorri, eu sorrio, se eu morro, ela se mata um pouco também.

Os prédios que se levantam como monumentos de um poder que não precisamos. As casas que se cercam de grades porque nos afastamos, e por nos afastar, desconhecemos, e por desconhecer, tememos.

E cegos que somos de tudo que importa, não vemos que a chuva molha a todos da mesma forma. Que os corações batem e o sangue circula, da mesma forma em corpos diferentes. Somos todos podridão e flores, caos e sinergia. Uma mistura de bem e mal, diversos tons de cinza.

Nada me assusta mais, ao caminhar por essas ruas esquecidas, do que o medo de não poder ver além do que a visão alcança. Não existe erro em ter medo, mas paralisar? Desistir? Nunca foi uma opção.

Minha vida é tão mais fácil de olhos fechados, mas com eles cerrados eu não posso ver o arco íris que surgiu na minha janela, nem seu sorriso quando abri os olhos de manhã. E vc nem imagina, mas esse sorriso, meio sem graça, ainda tímido, foi a inspiração pra mil canções que não compus. E não compus porque preferi guardar em mim a melodia, só pra mim.

Hoje o céu está azul, mesmo que meu peito ainda esteja acinzentado. Eu tenho tanto medo de tudo, mas o que me resta senão acreditar que aquele que anda a beira de abismos, hora ou outra aprende a voar?

Quem sabe num vôo cego, eu me lance para além dos muros que me cercam e alcance um lugar de paz, mesmo que ainda dentro de mim, e somente em mim, e para mim.

Por tantas vezes eu quis desistir, quis fechar os olhos e não abrir. Não hoje. Hoje eu agradeci pelo seu bom dia sonolento, e pela conversa que me embalou a manhã.

Não sei pra onde vamos, nem ouso perguntar aos meus oráculos. Digo ao mundo: Me surpreenda! Porquê eu, eu cansei de tentar adivinhar o que vai ser dessa vida louca.

Talvez essas linhas não façam sentido, mas quem precisa de sentido quando tudo que se deve fazer é sentir, e se entregar o sentimento. E mesmo com as asas cortadas, mesmo com os pés cansados da caminhada que você ainda desconhece, eu sigo em frente, vou com medo mesmo como dizem. Porque a subida é difícil, a trilha é íngreme, mas a vista do alto vale cada minuto de caminhada.

E se nada der certo, eu seguirei. Porque seguir é o me resta. Levantar e cair, e aprender a ser mais forte, porque por mais que o coração esteja cansado, ele ainda pulsa. E enquanto houver uma mínima esperança, tal qual como a flor que teima em quebrar o asfalto e brotar, a vida em mim sempre renascerá.

Meri Jaan
Enviado por Meri Jaan em 05/02/2020
Código do texto: T6858893
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