Pétala morta

Parece ser função do tempo enfraquecer nossos sonhos, mostrar que o caminho iluminado nem sempre será o melhor...

A gente insiste, se agarra numa esperança qualquer e o mundo floresce.

Em meio a primavera, a luz do sol se intensifica, os sentimentos transparecem e de tanta beleza nos cegam.

Os dias vão passando e numa corrida desenfreada, percebemos a imensidão do estrago causado por uma certa ilusão...

Ainda é possível ver as flores amarguradas, presas em seus vasos, elas vão murchando, perdendo o perfume, a vida...

Suplicam por um fim, mas precisamos ir além, adiando uma despedida já tardia...

Seria medo do vazio contido nos vasos ou medo do que esse vazio reflete em nosso ser?

É a partida das flores que dói ou nossa permanência em meio as recordações deixadas por elas?

De forma inconsciente a dúvida nos congela, as estrelas que brilhavam se apagaram, uma a uma... Desligaram-se, talvez mostrando que o tempo acabou e que as tentativas de reanimar o que quer que seja se esgotaram.

O céu nublado mostra que a primavera passou e após o vento levar consigo as pétalas das flores sobraram alguns espaços...

Não sei se é regra preenche-los, mas é hora de abrir as janelas e permitir que a luz do sol traga um recomeço.

Sem explicações as coisas começam a se movimentar, tudo passa a ter sentido e a tal da esperança chegou com suas malas.

Num certo dia após contemplar o céu pela janela, observei que na mesa foi deixado um único vaso sem qualquer conteúdo.

Num ato desastrado ou proposital, deixei ele cair e ao me aproximar para juntar os cacos, senti um nó na garganta, era mais do que um recipiente partido em pedaços...

Encontrei uma pétala perdida. Estava morta e ao mesmo tempo tão viva... Trouxe à tona confusões anteriores e uma recordação amarga da última estação.

O tempo foi parando e as estrelas se apagando... A esperança fez suas malas, partindo sem dizer adeus.

Éramos eu, a pétala e o vaso. Três elementos incompletos que aguardavam pela chegada de mais uma salvação.

Não parecia correto deixar os restos, uma vez que fui a responsável pela bagunça, então imersa por questionamentos desnecessários, me afundei em respostas vazias e aqui estou submersa em meio ao que sobrou do meu cenário sem vida...

LPN
Enviado por LPN em 05/04/2020
Código do texto: T6907686
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