O Silêncio

Trai-me o desuso do silêncio. Pensar que tudo aquilo que planejo transmitir chegará transfigurado no discernimento do outro. Toda ternura, carinho, insegurança, angústia, dor e raiva nascem Narciso em minha língua para morrerem Quasímodo na mente daquele que ouve.

Entre poetas e filósofos, por toda a vida flertei com os primeiros, mas hoje me caso com os segundos, não por me atiçarem mais a luxúria, mas pela sinceridade de suas cruéis verdades.

Se a verdade é caminho a ser seguido ante o odioso ato de mentir, mas suas consequências podem ser igualmente catastróficas, seja pela dificuldade em transmitir o que se pretende, seja pela maldade intrínseca que transporta, opto pelo sublime silêncio dos sábios.

Não. Não me julgo um deles, nem poderia admitir tal audácia, mas, quem sabe, não seja esse o primeiro passo para um caminho, senão de felicidade, de tranquila quietude...