Eu estava à beira do abismo quando você me disse pra pular

Eu estava à beira do abismo quando você me disse pra pular. E que você iria logo depois, mas que precisava ter certeza de que não nos machucaríamos tanto quando - e se - nós encontrássemos o chão. Eu não cogitei pôr em cheque, depois de tudo o que vivemos, a validade da sua palavra me garantindo reciprocidade. Meus pés, divididos ao meio entre o chão e o vão, demonstravam medo, mas nunca insegurança. E eu pulei.

Depois dos vinte e cinco, eu já não me importava tanto assim com as certezas. Acho que eu até gostava de tê-las, mas em nada me preocupava a ideia de entendê-las. Foi por você que eu pulei, Bee. O abismo mais fundo que eu já conheci. Foi por você que eu cheguei ao chão.

Não há graça nenhuma em morrer. E na verdade, você já sabia disso. Enquanto eu caía, você me virou as costas. Eu vi, mas não entendi o porquê. Não que agora eu vá te cobrar reciprocidade - reciprocidade não se cobra, se tem; sem razão, sem porquê, ser só por ser -, mas depois de me prometer clareza? Me diz: você soube ser sincera alguma vez?

Eu estava à beira do abismo quando você me disse pra pular. E já era tarde demais pra não cair. Eu conheci o chão e mais. Eu fui muito mais além. Eu conheci o inferno por você. E comi o pão que o diabo amassou. Mas eu fui muito mais do que achei que seria. Muito mais forte do que você achou que poderia ser. Eu sobrevivi. Eu me reergui. E agora até o diabo tem medo de mim.

Eu estava à beira do abismo quando você me disse pra pular. Você só não imaginava que eu aprenderia a voar.

um poeta da noite
Enviado por um poeta da noite em 21/07/2020
Reeditado em 01/08/2020
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