Paralelepípedos

Aiai, minha vida é um suspiro prolongado e quebradiço. Se eu fosse menos inconstante, seria mais confortável. Toda vez que tento em letras colocar os pensamentos, um caos contínuo se apodera. E urge a necessidade. Não me apego às coisas, mas procuro ao que me apegar. E se encontro algo, e este algo vem a ruir, então desmorono junto do meu trono inventado. Estou implodindo diariamente sem deixar vestígios. Queria que um sábio com olhos indiscretos dissesse aos demais: Veja, Laura é assim. Laura não é assim.

Ao mesmo tempo não queria. Seria útil pois eu sou totalmente incapaz de realizar essa tarefa por conta própria, trairia minha própria natureza. Não há como chegar para fulano e dizer: Veja, meu bem, sou inaceitável.

Patético...!

Mas eu me ofendo com atitudes alheias, sou mártir de inúmeros algozes, sem no entanto, ser vítima.

Não sou inocente. Nunca fui. Mas sou idiota.

E em mim há um abismo crescente, me perco nele, me afundo em trevas, calco minhas dores com carvão negro. Está escondido. A dimensão dele é incomensurável. A minha dimensão ninguém capta. Culpa das pessoas? Ou minha?

Ser inacessível cansa. Mas ser acessível seria a morte. Não a morte no bom sentido, mas um malefício total. Perda de identidade, destruição estranha, eu não seria mais eu.

Talvez fosse daquelas meninas radiantes e fúteis, tão superficiais e grotescas como um paralelepípedo. Mas afinal, tudo seria mais fácil. E as pessoas gostam de pessoas assim. Pisam em paralelepípedos. Mas estes não se importam, são cegos às verdades e são felizes assim.