A Era dos Ressentimentos

Basta um passeio pelas redes sociais e veículos midiáticos que é possível vermos o ódio e os ressentimentos que nossa atual geração carrega. Antigamente, esses sentimentos levavam à guerras propriamente ditas, hoje as guerras são travadas com gestos, palavras e multidões nas ruas, sem mencionar, é claro, as guerras nas mentes de cada indivíduo.

Todas as pautas em discussão pelo mundo são levadas aos extremos, ligamos a TV, abrimos uma página qualquer na internet e há sempre alguém destilando ódio, brigando por motivos tão toscos que a gente não sabe nem o que responder. O ser humano parece ter perdido (ou talvez nunca tenha conquistado) a habilidade de conversar civilizadamente, de respeitar opiniões e, principalmente, de se informar e se instruir verdadeiramente para falar com propriedade sobre qualquer assunto.

As fontes não são checadas. Acredita-se em tudo o que ouvem e veem e, como se não bastassem, repetem como verdades absolutas. Há várias pautas que dominam a impaciência do povo - política, governo, saúde, ciência, racismo, sexualidade, religião, aparência, a vida alheia...

Qualquer que seja o assunto o ser humano parece ser INCAPAZ de olhar para o próximo como um ser humano constituído de sentimentos, espírito, problemas e inseguranças. Todos somos culpados por alguma coisa e culpamos também aos outros, os encarregamos de diversas culpas. Nos tornamos seres ressentidos.

Seres rancorosos que se magoam e se ofendem porque o outro pensa diferente, seres mimados que não suportam a ideia de um mundo diferente, com gostos diferentes... reclamamos da padronização, mas queremos que todos pareçam iguais, pensem como nós, creia nas nossas crenças. Não admitimos a beleza na variedade.

Ressentimentos gera vitimismos. Somos todos vítimas de algum algoz por ai. E mesmo quando o algoz é real, perdemos o padrão da luta bem x mal justamente por não sabermos lutar contra a violência sem violência. Ainda que saibamos no fundo que violência gera violência, ainda que colemos até na testa adesivos de que 'gentileza gera gentileza', nossas atitudes e pensamentos estão bem distantes dessas premissas.

As gerações ressentidas irão entrar em uma grande depressão coletiva já que é nutrida por ódio, arrogância e soberba. É preciso sempre suprir a necessidade de se sentir importante, melhor do que os outros, mais bonito, mais rico, mais sempre que o seu vizinho.

Não há equilíbrio. Há apenas a necessidade de destilar suas frustrações como se o mundo tivesse culpa da sua vida e o que se tornou. Esquecemos que nós somos o mundo, nós fazemos o mundo o que ele é, nós somos culpados ou meritosos sobre nós mesmos.

Exigimos empatia e nem sequer sabemos, verdadeiramente, o significado da palavra. Todo mundo fala então é bacana repetir. A humanidade abdicou daquilo que a diferencia dos animais, abdicou do RACIOCÍNIO. Pensar é dispensável quando alguém pensa por você. Dizem que a mídia é um lixo, mentirosa e que nos controla, daí então, querem lutar para se desvincular dessa mídia repetindo o que julga conveniente da própria mídia. Somos todos peritos em todos os assuntos por pesquisas no Google, livro é coisa do passado.

Repetimos o quanto a educação é importante, bla bla bla, mas dentro da escola o que vemos é o aluno reclamar, o professor reclamar, as pessoas fingirem e executarem seus papéis e, de fato, ninguém fazer algo de verdade. O aluno exige boas aulas e bons professores, boa estrutura... mas não se dá ao trabalho de fazer a tarefa de casa, não lê um livro porque tem 'preguiça', não respeita o professor, não cala a boca na sala de aula, mas sabe dizer o quanto a educação é importante e o quanto está uma porcaria. Deixa eu contar um segredo... nós fazemos dela o que é, e se ela está ruim é porque nós somos ruins.

Seguindo vinte anos na escola, empurrando com a barriga, falando muito e fazendo pouco, não povoamos o mundo com adultos de qualidade, são apenas crianças que cresceram e se tornaram adultos que não tem a menor ideia de para onde ir ou que fazer. Mas uma coisa eles aprendem - a reclamar.

Se ressentem, se magoam, creem que o fato de se tornar 'adulto' os tornam magicamente sábios e vividos, aptos a comentar sobre qualquer assunto, reproduzir e repetir o quanto o estudo é importante para sua própria prole. Não conseguimos notar que são os EXEMPLOS que ensinam mais que palavras repetidas. O ser humano copia aquilo que vê, pois é muito mais fácil repetir comportamentos do que criar pensamentos. Pensar é trabalhoso e pessoas preocupadas em achar culpados não se dão ao trabalho.

E assim caminhamos...

Encontre o culpado, se frustre, grite, agrida, ressinta-se e seja escravo do mundo que criou para si mesmo, baseado nos sentimentos mais baixos, procurando luz sem querer acendê-la com o interruptor na sua frente. Mudar dá trabalho e exige coragem.

E nós não temos coragem.

MariaLaura
Enviado por MariaLaura em 07/10/2020
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