Colheita

As dores físicas pelas quais tenho passado nos últimos meses e a idade caminhando têm me feito repensar a vida, retroceder às dores da alma e pensar que só o hoje vale a pena.

O ontem passou e precisa ficar lá, serviu pra me fortalecer, ensinar, lapidar, mas não serve mais para lembrar. Afundei várias vezes, cai, mas aprendi a levantar, limpar a poeira e inúmeras vezes caminhar machucada, dolorida e sozinha.

O amanhã não está em minhas mãos. Isso não é pessimismo. Quando dizem que no fim, tudo dá certo, faço a correção para: o fim é um recomeço, pois é a morte quem está lá. Pode-se até fingir que ela não existe para amenizarmos o medo dela, mas a vida é a preparação para a morte e ela é inevitável.

Não há derrota ou vitória, até porque não estamos em uma competição: apenas precisamos ser melhores hoje do que ontem.

Não tenho em minhas mãos nem o hoje, mas só o agora! O hoje é longo e pode não durar. Tenho o segundo em que vivo. Por isso tenho feito o possível para vivê-lo de fato.

Tenho feito que gosto, o que tenho vontade, falado o que penso, ensinando a quem quer aprender, ignorando quem não quer ser lembrado, me desfazendo de cargas e bagagens que não são minhas... deixando escoar os fardos que carregava por acreditar que poderia salvar o mundo.

Não consigo controlar a minha vida, os meus passos, os meus pensamentos, a minha dor física... Que tola que fui achando que poderia ajudar o outro, mudar o outro. Não posso! Não tenho o direito de interferir no livre-arbítrio de quem quer que seja! Por mais que me doa, os barcos precisam partir, precisam passar por tempestades, precisam naufragar, ficar perdidos, se quebrar, afundar porque só quando se afunda e se chega ao fundo é que buscamos novamente pelo céu estrelado.

Semeei e estou colhendo... rosas e seus espinhos. Não me arrependo de nada, não sou assim. Com a consciência tranquila e graças à Deus e à " sertralina" sigo, rindo de meus erros, agradecendo pelas quedas, sorrindo pelas conquistas e vivendo o segundo, apenas cada segundo por vez.

Colho todos os dias rosas e espinhos, mas são meus. É a minha colheita. Hoje, só planto onde me permitem: não jogo mais sementes ao vento. Não vale a pena e não me acrescenta à alma.

Cláudia Marques

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Cláudia Marques
Enviado por Cláudia Marques em 30/10/2020
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