Quinta-feira, 22h31min

Minha sinceridade sempre te trouxe estranheza. Acho que porque você era muito mais acostumada com as mentiras e isso talvez tenha dado causa ao nosso fim. Nossos amigos diziam que um dia você se arrependeria e eu acreditei, quase como uma verdade absoluta; quase como quem aperta os dedos, em forma de figa, esperançoso com a sorte que me ajudaria com a chegada rápida desse dia.

Era noite de primavera e enquanto eu esbraveja, com voz e violão, minha versão daquela tão nossa velha música - na certeza de que dai você me escutaria -, você exibia ao mundo uma fotografia com duas taças de vinho. Lado a lado. Para não deixar dúvida alguma do que você estava vivendo. E eu, mesmo fazendo das tripas coração para chamar sua atenção, entendi que era mesmo o fim.

Foi o que me arrancou do peito o coração. Foi assim que eu decidi beijar a primeira boca que me apareceu e demonstrou não reciprocidade, mas um mínimo de interesse e atração. E eu fiz questão de mostrar aos seus amigos meus novos beijos. Para provar que estava tudo bem. Para acreditar que estava tudo bem. Eu sei que não estava.

E eu aprendi que viver é isso, meu bem. É entender que, por vezes, você será apenas uma página na história de alguém que, para você, foi o livro todo.

um poeta da noite
Enviado por um poeta da noite em 12/11/2020
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