A gente morre sozinho

Eu já tive amigo bom e já tive amigo ruim. Já tive amigo santo e amigo que não valia nem o pão que o diabo amassou. Eu já tive amigo rico e muito amigo pobre. Já tive amigo mais velho e mais novo; mais doido e mais centrado; mais forte e mais vulnerável; mais amável e alguns um tanto quanto reprováveis. Eu já tive amigo que foi preso e já tive amigo magistrado. Eu já tive um parente amigo e um alguém tão amigo que era quase parente. Eu já tive amigo frio e amigo mais sentimental. Amigo que transa no primeiro encontro, amigo virgem e até amigo que empata foda. Eu já tive amigo rockeiro, evangélico, skatista, drogado, traficante, policial, funkeiro e até ouvinte de música clássica. Amigo renascentista, amigo contemporâneo. Amigo que preferia a versão de Belchior e amigo que só ouvia na voz de Elis Regina. Amigo que gostava de moda de viola, outros que preferiam violino. Eu já tive amigos de todos os tipos, mas quando eu precisei... Quando eu mais precisei, eu não encontrei ninguém. Foi então que eu entendi que eu nunca tive amigo nenhum. A gente morre sozinho.

um poeta da noite
Enviado por um poeta da noite em 15/01/2021
Reeditado em 15/01/2021
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