SER ATLETA

SER ATLETA

Em uma época que a raça humana ainda se firmava como uma espécie de macaco sem pelo e vivia dos vegetais e dos animais que matava com a mão ou a pedradas, a necessidade de sobreviver provocou o aparecimento de indivíduos diferenciados, que se dedicavam exclusivamente a buscar alimentos para si e para o grupo ao qual pertenciam. Saiam de sua caverna ao nascer do sol, com um porrete na mão, atentos a tudo que acontecia e encontravam nas matas, estepes, savanas, rios e montanhas. Em milhares de anos aprimoraram as habilidades na coleta de vegetais e na caça aos animais. Chamados de caçadores coletores se tornaram cada vez mais hábeis nessas atividades. Para coletar frutas e folhas precisavam subir em árvores ou procurar cuidadosamente raízes comestíveis no solo que pisavam, buscando à sua volta a existência de frutas e folhas. Suas atividades requeriam desenvolver uma coordenação psicomotora cada vez mais refinada, ampliando em muito o domínio da mente sobre o corpo. A busca de alimentos requeria escalar montanha, escavar, correr desesperadamente para escapar de animais selvagens, percorrerem as matas sem barulho e correr desesperadamente para caçar animais. Como subproduto o caçador coletor criou uma linguagem apurada sobre sua atividade, desenvolveu técnicas de caçada em grupos que possibilitaram abater grandes animais garantindo alimentação por períodos mais longos. Das águas obtiam peixes, e desse mister criaram o nado e, após utilizar troncos flutuantes, embarcações. Essas inúmeras atividades provocaram o aparecimento de indivíduos especializados em cada uma delas, especialização esta sempre decorrente das necessidades de alimentação combinadas com a região que habitavam. Alpinistas nas montanhas, corredores nas savanas, nadadores no litoral ou margens de rios. E cada vez mais surgiu novas e mais novas habilidades que os indivíduos dedicados a alimentar sua comunidade precisavam para garantir a sobrevivência do grupo. Após alguns milhares de anos, para sobreviver precisavam lutar, correr, saltar, lançar objetos, praticar o arco e flecha, nadar, entre outras atividades. Prestigiados por líderes tribais, os caçadores eram tratados com especial deferência por toda a comunidade. Herdaram de antepassados a consciência de seu relevante papel na sociedade, mas sempre estiveram abertos a admissão de pessoas interessadas em ingressar no seu grupo, por menos coordenação motora que possuíssem. Não se tem conhecimento da existência de sociedade unicamente composta de caçadores.

Com o advento da Agricultura, o papel dos mais hábeis continuou a ser importante, tanto na caça como na guarda dos campos de trigo contra animais e invasores humanos.

Muitos passaram a ser o orgulho da sociedade e disputas entre tribos surgiram tanto para resolver conflitos ou apenas para definir quem eram os mais hábeis.

Assim, a evolução dessas competições e o refinamento da atividade física chegaram a Antiguidade, e as grandes civilizações cultivaram disputas físicas entre seus representantes tais como as Olimpíadas gregas, os embates no Coliseu Romano, lutas em Creta.

Muitas das atividades de caça e coleta continuaram a serem praticadas mesmo após a evolução tecnológica por indivíduos amantes da vida ao ar livre, da saúde física, de um motivo para esquecer as agruras do cotidiano.

Até o século XVIII, essas atividades iniciadas milhares antes por indivíduos comprometidos em garantir alimentos e guarida para seu povo foram designadas como Esporte Antigo. A partir daí organizaram-se encontros para não só mostrar os avanços obtidos como grandes oportunidades de compartilhamento de novas práticas esportivas que desembocaram nos Jogos e Olimpíadas. Os praticantes, desde a Antiguidade foram denominados “atleta”, que significa lutador, pessoa de bom porte físico.

Então, quando assistimos às competições esportivas, é preciso saber que ali estão herdeiros de uma nobre atividade humana, nascida para o bem dos povos. Não são um bando de malucos por mostrar que são melhores que seus adversários, mas para compartilhar conhecimentos e costumes, para brindar a vida e a amizade entre os povos. Eu sou atleta.

Paulo Miorim, 17/08/2021

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 17/08/2021
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