Janeiro

Dois mil e vinte e dois. Um ano a mais, uma nova oportunidade para esse mundo. O nosso mundo, como tantos dizem. Nosso? E quem somos nós? O medo que tenho dessa resposta se junta à certeza de que estamos juntos construindo o caos a cada dia que passa. Somos todos responsáveis por tudo isso que estamos chamando de fim dos tempos. E temos, sim, que usar muito essa primeira pessoa do plural, não há quem escape. Nem eu, nem você que concorda comigo, estamos isentos de participar desse grupo nefasto: Nós. Ninguém inocente. Inútil tentarmos nos defender das estruturas que construímos, uns por comodidade, outros para manter bons relacionamentos ao longo da vida, e alguns, infelizmente, por maldade mesmo. É a velha história do “não vou me envolver nisso”, do “deixa pra lá”, do “cada um por si”. No fim das contas, todos perdemos, todos: os feridos, os dolosamente culpados, e os que filmaram a briga. Há os que lutam, eu sei. Diariamente os que tentam separar os recicláveis, acariciar as autoestimas, catar os lixos da areia e proteger os ovinhos das tartarugas. Mas, infelizmente, a maldade vem em turbilhões dia após dia. A maldade prospera dentro dos lares, no profundo dos corações humanos. Para cada pensamento positivo, note, se encontra não raro dentro da nossa própria sala, alguém rindo de uma tragédia, outro alguém se desculpando por contar uma piadinha incorreta... Nossos encontros familiares transbordando conformismo, a ponto de decidirmos não brigar por questão alguma, para preservar a paz daqueles que brigam. Eu tenho medo do mundo. Espero, sinceramente, que os “nós” se desatem, e que individualmente tenhamos coragem de lutar por mais dignidade humana para todos. Eu disse Todos. Nem um a menos que Todos.

Denise Paredes
Enviado por Denise Paredes em 28/01/2022
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