Eu queria (me) entender

Eu queria entender o motivo de só conseguir escrever quando vejo que a dor me alcançou o peito de tal maneira que pôr pra fora, na verdade, já virou uma questão de vida ou morte.

A mão abraça a caneta como faz um forjador, que segura nas mãos o poder de criar o mundo. E o mundo, meu bem, não é nada mais que um cinzeiro. Um cinzeiro cheio de lembranças de mais uma noite de desamor.

Foi quando eu te conheci e pude então entender que, de mim, não posso esperar muitas páginas enquanto troco passos com a alegria. Mas se assim é, o que faço eu aqui, então? Acho que até você, meu inquieto leitor, também já tem esta resposta: pois nada vai bem.

E como um forjador que passa uma década sem voltar à forja, mas se lembra de cada particular procedimento - ainda que um pouco enferrujado, é verdade -, eu volto à vida pela caneta que toca o papel.

Que é pra ver se me entendo - eu queria me entender, mas não consigo -, que é para ver se te entendo, que é pra talvez ver mais de perto o (meu) fim.

um poeta da noite
Enviado por um poeta da noite em 06/02/2022
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