Latinoamerica

Eu sei o que é segregação,

Eu sei o que é dor,

E humilhação e descaso,

Desprezo, abandono, solidão.

Eu sei o que é ficar calada.

Mesmo quando dilapidada, menosprezada.

E ainda sei o que é se sentir

Incompreendida, desperdiçada,

Em desvantagem, vulnerável e frágil.

E então, desaparecida e deprimida.

Mesmo com a pele branca, trago em algum canto do corpo, e

ou em alguma memória,

Estas tais sensações que reconheço.

Observo olhos que sorriem. Os risos podem estar contidos nas gentes sofridas.

Se minhas longínquas memórias, aquelas que vieram de observar o olhar triste de meu avô imigrante, se encontram com o olhar doce, que ainda sorri, de todo um povo unido pela história comum de exploração, meu peito explode.

explodem,

o amor, a afinidade pelos iguais, a solidariedade.

Vou enraizando meus pensamentos e eles não mais conseguem desconsiderar a urgência de exercer a alteridade com nossos irmãos latinos.

O vídeo com belas imagens mescladas com a plenitude acústica da Orquestra Sinfônica me impressionou a ponto de ao final eu me sentir “voltando ao lar”. Executado em solo mexicano, o concerto envolveu o grupo musical Calle 13:

“Não se pode comprar as nuvens, não se pode comprar o sol, nem as cores, nem minha alegria, nem minhas dores.”*

Em cada uma daquelas cenas, a beleza, a comovente fragilidade e a paradoxal força do povo latino-americano, expressos por um coração que pulsa, pulsa junto, coletivo! E a Orquestra Sinfônica de Venezuela!

É o “Novo Mundo”, termo cunhado até onde se sabe pelo explorador florentino Américo Vespúcio (1503) que nos descreveu: “um continente, cheio de animais e mais populoso do que a nossa Europa ou Ásia, ou África, e ainda mais temperado e agradável do que qualquer outra região que conhecemos.”**

Enquanto isso, ao invés de “compartir”, as nossas histórias latino-americanas: “Realizavan la labor de desunir nossas mãos e fazer com que os irmãos se mirassem com temor.” ***

Quantas rivalidades bobas, e lutas travadas entre nós Hermanos, guerras a parte, onde aliás nós fomos ferozes.

Que pena que não tenhamos espanhol como segunda língua. A quem interessa que o maior país da AL, fique isolado culturalmente e em tudo mais dos nossos vizinhos?

"Por ocasião do lançamento do filme magistral argentino, adaptado do livro O segredo dos seus olhos, o colunista em 2010, chamava a atenção de que se tratava de cinema que faz refletir além de entreter, e, portanto, não passa na TV. Especialmente não passam filmes de reflexão argentinos, coisas da massificação ideológica perpetrada pela indústria cultural. No Brasil, a TV continua sua tarefa de nos afastar da América Latina, a TV paga vista no Brasil, com quase cem por cento de filmes produzidos nos Estados Unidos. A TV aberta insufla o ódio aos argentinos via ataques rasos ao futebol; quando entrevistam presidentes democraticamente eleitos, os tratam com desprezo. Seguimos desintegrados e nosso continente, subordinado. Porém, quem sabe um dia, consigamos criar uma TV pública bi-nacional com a Argentina, superando diferenças seculares irracionais e ignorantes."****

Porém, “lo que brilla com luz própria, nadie lo puede apagar”. “Já foi lançada uma estrela, pra quem souber enxergar, pra quem quiser alcançar e andar abraçado nela.” ***

Temos que pensar com carinho em nossas relações profundas com nossos habitantes tão próximos. Ouçam o Calle 13 e o Chico e Milton também, ou no original com Pablo Milanês! E me digam se é possível ficar indiferente.

"El que no quiere a su patria, no quiere a su madre" *

“Vamos desenhando o caminho

Aqui estamos de pé!

Que viva a América!”**

Obrigada amigo querido Professor José Mário dos Santos Resende, que foi Assessor da UNILA -Universidade Federal de da Integração Latino Americana, ex-secretário nacional do Conselho Nacional de Promoção e Igualdade Racial, e atualmente na Universidade Federal de Sergipe, por me apresentar o Calle 13!

Obrigada primo querido Murilo A. O. pelo envio desse excelente artigo do professor Lalo Leal, que secretariou a Pasta de Esportes, Lazer e Recreação de São Paulo, durante a gestão de Luiza Erundina.

*Calle 13: Trio de irmãos porto-riquenhos de música urbana, rap alternativo e pop latino com o vocalista René Perez Joglar, Eduardo José Cabra Martinez e a backing vocal Ileana Cabra Joglar. Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=Utd8GfQajwA. E Orquestra Sinfônica de Venezuela com participantes que vibram! Muito bonito!

**Citação da Wikipedia para “Novo Mundo”

***Canción por la Unidad Latinoamericana de Pablo Milanês (1976), interpretada também por Chico Buarque com Milton Nascimento. Vale a pena ouvir as duas.

****Debate Aberto: "Força Argentina!" Colunista Laurindo Lalo Leal Filho, 19/02/2010,