Em nome dos deuses

A humanidade sempre criou os seus deuses para justificar boa parte da sua ignorância, ao atribuir a uma entidade divina a responsabilidade de arquitetar o plano e a explicação para a sua origem como espécie e na formação do universo, à luz da sua própria imagem e da sua limitada condição. Assim, construiu templos, passou a visitá-los e a venerá-los, dedicando-se fervorosamente às liturgias e práticas religiosas, tornando-as uma referência respeitada e um atributo dos bons e velhos costumes. Essas práticas, desenvolveram grupos e facções organizadas que viram nesse propósito a oportunidade de se constituírem como entidades avalizadas, respeitadas e bem aceites pela sociedade, quase sempre orientadas no intuito de fortalecer um grupo social e seus objetivos que muitas vezes contrariavam na prática os valores e as origens desses ensinamentos. É comum observar-se que essas organizações pregam nos seus templos a palavra da salvação e outros ensinamentos que conferem aos grupos uma espécie de aura santificada e promessa de proteção que funciona como um reconhecimento divino e serve também para que os pastores possam controlar os seus rebanhos que, para esse efeito, devem obedecer fielmente à palavra anunciada e seguir os dogmas. No entanto, é comum observar que, na maior parte das vezes, a prática social dos crentes não corresponde minimamente a essas doutrinas, o que faz com que sejam observadas condutas e posturas que desvirtuam os valores sociais como um todo. Assim, a humanidade parece caminhar cada vez mais para uma grande falácia ligada à moral, ao grupo social e às instituições, responsável pela má formação dos seus congêneres e dos jovens que herdam como testemunho um modelo obscuro, sombrio e muito pouco esperançoso. Reparemos na realidade brasileira contemporânea, em que muitos grupos religiosos seguem cegamente o seu líder político religioso como se fosse uma representação viva do seu deus são favorecidos e amparados por ele como moeda de troca comercial e garantia de voto. Essas pessoas que idolatram o seu deus, são orientadas a seguir práticas de conduta que servem os interesses de um grupo soberano que pretende sobretudo o fortalecimento de um estado absolutista e prepotente, mas que parece não se importar com quem é necessitado e padece sem as condições mínimas de sustentação e dignidade. O hipotético e legítimo papel desses "deuses" que seria o de trazer alguma luz e esperança para problemas que afligem a humanidade, encontra-se cada vez mais obscurecido, decadente e esvaziado por aqueles que, em seu nome, deturpam a sua imagem, destroem, matam, cometem atrocidades e são frios e displicentes para com aqueles que vegetam em busca de melhores dias. A humanidade exclui-se assim do seu papel ativo (em nome de deus), sensato e responsável nas questões que lhe dizem diretamente respeito, nos seus compromissos e nas suas atitudes, para se esconder atrás de um falso deus misericordioso (fruto da sua imaginação, ignorância e covardia), piedoso e benevolente no seu propósito maior de criar, elevar, orientar e resolver as questões humanitárias. À espécie humana, apesar de todo o avanço tecnológico e da ciência, fica relegada essa tremenda mancha atribuída à sua conduta e aos seus erros, às suas negligências e mentiras que ousam, de alguma forma, justificar a sua imensa ganância, maldade e declarada insensatez.

Mongiardim Saraiva
Enviado por Mongiardim Saraiva em 12/04/2022
Reeditado em 12/04/2022
Código do texto: T7493727
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