Pássaros não pensam muito em Poesia
Fase ruim este poeta enfrenta, em que os seres mágicos de outrora lhe fogem.
O poeta se sente oco, meio sertão – será que os primeiros papéis, as tintas borradas lhe absorveram toda a imaginação?
Ele vê a luz incidindo muito naturalmente sobre a xícara displicentemente apoiada no parapeito da janela. Sente inveja de suas cores e sua luz. Ele, que se abriga na penumbra, pois está sem armas e coragem para combater no front. O poeta parece menos disposto a morrer pela sua causa; a morrer por sua senhora, a Poesia. Sua arte mui antiga de esgrimista das palavras parece enfraquecida ou sufocada dentro dele. Os músculos já não obedecem à cansada ordem “escreva, escreva, revele-se”.
A luz não quer que a desvendem nem que lhe calculem a massa e o peso. Não se deve nem perguntar a respeito disso.
O poeta está mais pálido; menos poeta, se é que me entendem. No entanto, a Poesia tem pressa. Pressa em ser descoberta, revirada, remexida, defendida.
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...é que o poeta agora é pássaro, e não tem pressa de nada. Coração de pássaro nem pensa nisso, em Poesia. A vida, o vôo lhe basta.
Poesia é mesmo coisa de gente.