EU CHOREI...(PELA DEMOCRACIA)

EU CHOREI...

Por muitas horas, por alguns dias, por meses e alguns anos. Convivi, por muitas vezes sem saber ao certo como lidar com o aquele que me contrariara.

Por outros momentos também me exaltei, elevei o tom da voz, tentando me sobrepor, talvez como o mero intuito de fazer valer a minha ideia, a minha opinião, a minha suposta e correta razão, afinal, todos a querem ter, muitos supõe sê-los donos, e consequentemente quase nunca querem ser privados dessa prerrogativa.

Conviver com aqueles que nos tomam a benção, e nos tem como o sumo sacerdote, senhor de todas as verdades, é por muitas ocasiões, uma dose forte de injeção de ego, e nos remetem ao palco dos ares, onde o piso das nuvens que nos sustentam, levam-nos a um estado de entorpecimento dos sentidos, deixando-nos incautos para o possível passo adiante que poderá ser o chão duro que nos fará lembrar os alambrados da serenidade.

A vitória ou a derrota de nossas demandas, ambas podem servir de aprendizagem para o curso natural da vida. A primeira, pode nos remeter ao cenário das ilusões, fazendo-nos crer que ali atingimos um estágio de plenitude, e aí, o inchaço narcisista, logo, logo toma de assalto o imprudente, e esse desatento poderá ter seguidos tropeços em suas próprias pernas, por ter esquecido lá no seu instante de engatinhamento de performances, que para ultrapassar os sarrafos precisou de inúmeros recomeços.

A segunda resposta às demandas, essa quase sempre vem acompanhada de algumas vacinas doloridas, que através dessas mesmas vitórias inversas, nos permitem perceber a necessidade da persistência, disciplina e determinação,

em ambos os casos, tudo é aprendizado.

O êxito também pode ser um passo austero, desde que o tido como vencedor, perceba no seu adversário que lhe atacava, o instrumento ideal para lhe fazer entender o quanto de fragilidade ainda carrega consigo mesmo, e que as setas que lhe eram apontadas, são exatamente as chagas que precisariam ser curadas dentro de si.

O exitoso só pode se considerar assim, desde que verdadeiramente se perceba desse jeito acima citado, pois do contrário, mesmo que os números frios de qualquer competição lhe apontem para um resultado promissor, esses algarismos serão tão somente índices fúteis para serem guardados nas estantes empoeiradas da sua demente memória.

Eu falei que chorei, sim eu chorei. Chorei por um tempo que vivemos, e que por muita vez, ataquei e fui atacado. Por entender que a melhor defesa seria o ataque, rebatia na mesma forma e muitas outras vezes, até mais duro, porque confiante da poderosa ferramenta que tenho, que é o poder do uso das palavras e o devido emprego da correta gramatica, sabia precisamente onde e como atingir devidos golpes nos diversos adversários.

Hoje após o resultado das eleições, ao acompanhar o discurso do presidente Lula, percebi a necessidade de me recompor. Meu choro, tem muitos significados; chorei pelas pessoas queridas que se foram pela covid e que na hora de votar, eu as lembrei; chorei pelas inúmeras barbaridades que o predecessor cometeu, e que por isso me permiti ser um dos mais ativos adversários das pessoas que lhe apoiavam.

Eu costumo dizer pra mim mesmo: TUDO QUE ME RODEIA, ME PERMEIA. Todas coisas me são úteis, e tudo pode me servir, assim como eu posso servir pra tudo. Mas como diz o apóstolo, “tudo me é licito, mas nem todas as coisas me convém”.

Meu choro pode ser pela emoção da vitória da democracia, pela oportunidade de novos tempos para os mais necessitados; para aqueles que não tem voz, e principalmente para aqueles que não sabem como se expressar.

Mas eu também chorei por vergonha de mim mesmo, afinal, “Ao vencedor, as batatas!”*

EM TEMPO: " Se não sabes como abrir sua cabeça, recomendo um Machado, de preferência o de Assis" **

* QUINCAS BORBA...(Machado de Assis.)

** autor desconhecido.

PEDRO FERREIRA SANTOS ( PETRUS)

31/10/22

Petrus
Enviado por Petrus em 31/10/2022
Reeditado em 31/10/2022
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